9.6.04

VI (última parte)

Minha Alteza

Há séculos que sonho com o teu retorno triunfante de uma guerra que só faria engrandecer o teu nome na história, colocando-o ao lado de Alexandre o Grande. O sonho coroou-se de realidade. Por fim a Gália subjugada! E que butim nos trazes! Meu senhor, como me orgulho do meu rei, do meu esposo, ao lado de quem me sinto a verdadeira Hera. Ouça os dobres dos sinos que ordenei tocassem para acompanhar os passos de tão valorosos cavaleiros no seu caminho de volta ao lar. Ouça e apressa-te que hoje à noite te receberá o banquete que merece todo César. Organizado por mim mesma com as mais saborosas carnes de nosso reino, meu bravo consorte. E após refestelar-te com o sangue vigoroso da caça, um leito de depravações aguarda o corpo lúbrico do saudoso esposo em meus aposentos. Estou ansiosa para mostrar-te tudo que podemos fazer com o espelho deformante que me foi presenteado pelo cardeal de Vincennes. Acredita? Não vejo a hora de abraçar-te, de deitar fora teu gibão, arrancar teus calções suados da batalha e tocar tua espada com o bico de meus seios, ao pé da cama, derretendo-me em tuas mãos. (Não me importo mais com a história de teus folguedos com a anã, tudo descansa no passado. Desconheço o que foi feito dela. A condessa chorosa ainda procura a filha pelos pântanos e jardins da basílica, onde foi vista pela última vez.) Mas hoje à noite só seremos tu, eu e nosso lectus genialis.

Tua esposa que te adora
e jamais renuncia aos prazeres
que nascem desse direito

A Trapezista