8.6.04

IV

Senhor

Como diz o ditado, não creio nessa história mesmo se Catão ma contasse. Que a tua cortesã bizarra é capaz de engolir toda a tua espada vezes seguidas e ainda pedir por mais escabrosidades? Um fenômeno da fisiologia! Posso concluir daí que, enfim, chafurdarás na volúpia com que sempre sonhastes. No entanto, um culhonésimo de comedimento seria aconselhável de tua parte para que não sobrevenha novamente um desastre como o de Madame du Bressac. A pobre libertina vive até hoje mal das pernas e me dá grandes despesas e enfado com suas queixas e ameaças de escândalo. Nossa reputação não suportaria mais este abalo. E os tempos, como sabes, não são mais aqueles faustíssimos. A hipótese de uma guerra agora seria oportuna, meu caro. Ainda assim, me divirto com tuas distrações. Essa pequinesa vibrante, de admirável intrepidez, sabe de fato manejar-te, o que eu mal consigo com meus improvisos acrobáticos e louçanias de espírito. Temo não possuir os mesmos dotes da anã no coup de foudre. Para finalizar, previno-te que a tua falta não só é sentida em meu leito como nas reuniões do Conselho. Seria prudente que aparecesses. Já começam os rumores.

Tua esposa ainda amada
A Trapezista