22.12.21

1.12.21

20.11.21

Anna Akhmatova




Vinte e um, fim de noite, segunda,

traços tênues na bruma em torpor.

Mais uma alma qualquer vagabunda

escreveu que no mundo há amor.



26.7.21

Katerina Gogou

O Meu Maior Medo



O meu maior medo 
é o de transformar-me em "uma poeta"... 
Ficar trancada no quarto olhando o mar e esquecer... 
Medo de que os pontos em minhas veias cicatrizem 
e que, em vez de ter uma vaga memória dos noticiários de TV, 
eu passe a rabiscar papéis e vender "meus pontos de vista"... 
Medo de que os que passaram por cima de nós possam me aceitar para poderem me usar. 
Medo de que meus gritos virem um murmúrio para fazer o meu povo dormir. 
Medo de aprender a usar métrica e ritmo e ficar presa dentro deles 
ansiando que meus versos se tornem canções populares. 
Medo de vir a comprar binóculos para ver de perto 
as ações de sabotagem das quais não estarei participando. 
Medo de cansar-me -- uma presa fácil para padres e acadêmicos -- 
e com isso transformar-me em uma mulherzinha covarde 
Eles têm seus métodos... 
Podem utilizar a rotina com que nos acostumamos, 
já nos transformaram em cães: 
nos deram a vergonha por não trabalhar... 
depois o orgulho por estarmos desempregados... 
É assim que é. Psiquiatras astutos e policiais deploráveis 
esperam por nós nas esquinas.
Marx... 
É outro medo 
Eu não o esqueço também...
Esses filhos da puta ... a culpa é toda deles... 
Eu não consigo -- merda -- nem terminar de escrever isso 
Talvez... hum?... talvez um outro dia... 

(tradução: Maira Parula)

(Katerina Gogou (1940-1993) foi uma poeta grega anarquista e figura representativa do radicalismo político e da cena cultural dos anos 1980 em Exarchia. Katerina nasceu em Atenas e os primeiros anos de sua vida foram marcados pela fome, a ocupação nazista, a resistência e a guerra civil. Participou de mais de 30 filmes gregos. Sua poesia de forte impacto está fincada na condição humana e na rebeldia revolucionária de conteúdo anarco-comunista. Katerina cometeu suicídio aos 53 anos com overdose de barbitúricos. 


22.6.21

28.5.21

Saúl Dias


Ainda


Eu não quero esquecer os dias que viveram.

Por eles escrevi estes versos mofinos;
escrevi-os à tarde ouvindo rir meninos,
meninos loiro-sóis que bem cedo morreram.

Eu não quero esquecer os dias que enumeram
desejos e prazeres, rezas e desatinos;
e, em loucuras ou entoando hinos,
lá na Curva da Estrada, azuis, desapareceram.

Eu não quero esquecer dos dias mais felizes
a bênção branca-e-astral, lá das Alturas vinda,
nem tampouco o travor das horas infelizes.

Eu não quero esquecer… Quero viver ainda
o tempo que secou, mas que deixou raízes,
e em verde volverá, e florirá ainda…