6.6.04

II

Senhor

És um homem ou um bebê? Por que durante o banquete de ontem percebi a centelha da cobiça em teus olhos derramados naquela monstrinha, a filha da condessa Ottinger? Por que aquela cara de gêmea siamesa caminha feito uma vagabunda de Pequim? O que ela tem nos pés? Por certo estás fascinado por sua beleza grotesca, meus ciúmes não são infundados. Só espero, como sempre, que este teu carnaval se haja com a máxima discrição. Não toleraria virar motivo de chacota nestes tempos já tão conturbados. Estou aniquilada e tua ausência me desespera. Hoje à noite me encontrarás sozinha em meus aposentos se quiseres conversar. Ou para, quem sabe, um dos nossos espetáculos sem palco (o que anseio mais do que tudo).

Tua amada esposa
A Trapezista