9.6.04

V

Meu senhor meu herói

Todas as noites sonho contigo carregado de glória. E que beijo teu busto clássico e vivo sobre um pedestal grego. Vejo-me alisando tua coroa de louros. Acordo toda suada e te procuro em minha caverna úmida. Vazia. Tanta paixão não existe, não pode existir, nem nunca existiu. Quando não te vejo, me sinto à margem do mundo, pendurada num abismo, minhas mãos sangrando nos beirais de pedra. E se não estás dentro de mim, sou toda sangue e lágrimas, um fruto abominável do Destino. Minha boca passa seus dias tristes buscando o teu nome em um alfabeto a que jamais é permitido formar palavras. Sinto-me tragada pelas feras no Coliseu. Querido, meus pés já não dóem tanto, faltam somente quatro centímetros para caberem na palma de tua mão. Minha mãe percebe minha angústia e faz comentários sobre minha pele de mármore. Pouco me alimento e não saio à rua. Ela faz perguntas. Não sei o que responder. Começo a assustar-me e receio que não poderás mais vir me ver com a mesma tranqüilidade. Há dois guardas na porta dos meus aposentos pois a condessa minha mãe receia que eu esteja sendo "vampirizada". Ela é uma mulher sensível às superstições do populacho. Não a culpo, porém não sei mais o que fazer. Penso em fugir para procurar-te, sei que não devo. Estou desesperada com este sentimento que só faz aumentar sua própria sede. Imploro-te que venhas ao meu encontro hoje à noite nos jardins da basílica. Não me faltes, ou algo de terrível pode acontecer.

Tua escrava sempre
na vida e na morte
Urselina