28.7.08

Dreamtigers




Na infância pratiquei com fervor a adoração do tigre: não o tigre oveiro dos camalotes do Paraná e da confusão amazônica, mas o tigre rajado, asiático, real, que só homens aguerridos podem enfrentar, sobre um castelo em cima de um elefante. Eu costumava demorar-me infindavelmente diante de uma das jaulas do Zoológico; apreciava as vastas enciclopédias e os livros de história natural, pelo esplendor de seus tigres. (Ainda me lembro dessas figuras: eu, que não consigo recordar sem engano a fronte ou o sorriso de uma mulher.) A infância passou, caducaram os tigres e sua paixão, mas eles prosseguem em meus sonhos. Nessa tela submersa ou caótica continuam prevalecendo, e deste modo: adormecido, distrai-me um sonho qualquer, e de repente percebo que é um sonho. Costumo pensar então: isto é um sonho, pura diversão de minha vontade, e, já que tenho um poder ilimitado, vou produzir um tigre.

Oh, incompetência! Nunca meus sonhos sabem engendrar a almejada fera. O tigre aparece, sim, mas dissecado ou fraco, ou com impuras variações de forma, ou de um tamanho inadmissível, ou muito fugaz, ou tirante a cão ou a pássaro.


Jorge Luis Borges, "Dreamtigers", O Fazedor, 1960.