21.4.14

Rita Barros



linha 1: azul

eu vestia uma saia e subi aos céus
de escada rolante
a escada rolante engoliu minha saia foi tão
rápido não deu tempo de puxá-la
fui engolida com ela
e lá fomos nós
a saia e eu
rumo ao misterioso interior
de uma escada rolante
ali colhíamos de tudo
unha de gato
dedo de moça
pata de elefante
brinco de princesa
sapatinho de judeu
cabelo de anjo
ora pro nobis
todos os dias o céu precipitava
fragmentos de palavras giratórias e pessoas-
espaguete 
contentava-me com elas
decidi ficar
e foi assim que me mudei para debaixo da escada
rolante uma escada rolante não tem
fim


linha 9: esmeralda

cigana do banco
que faz
            ciranda de velas
            pombas
            pipocas-
            doces dedos escarlate

a boca cheia
de dentes de ontem
de ouro charuto e tarot

com o cabelo muito loiro e débil
e a boca que guarda o mundo
ela liberta todos os presos

danço com eles pela faixa preferencial
danço sua gaiola de gárgulas
e esqueço

os tolos não sabem ou sabem

[ela desenha um círculo de talco e pena na calçada em frente
ao banco real]

cigana do banco
tenho medo dela
tenho medo de
              não voltar


(mais da autora em seu blog Sede de Pedra)