7.11.03

Laura Riding

William e Daisy: Fragmento de uma novela inacabada


William e Daisy moravam na rua do Cemitério. Não possuíam nenhuma ligação entre si exceto que ambos não se sentiam atraídos pela vida tampouco pela morte; por isso viviam na rua do Cemitério. William era pessimista porque desgostava da vida um pouco mais do que da morte. Daisy era otimista porque desgostava da morte um pouco mais do que da vida. William tinha duas lembranças: uma, que já tivera familiaridade com prostitutas; e a segunda, que já tivera familiaridade com escritores famosos. Estas duas lembranças se confundiam e delas não tirava nenhum sentido. Daisy tinha duas lembranças: uma, que algum dia já fora prostituta; e a segunda, que no seu tempo ela havia conhecido vários escritores famosos. Estas duas lembranças se confundiam e delas não tirava nenhum sentido. Não tiravam nenhum sentido de suas lembranças exceto que ambos se sentiam muito dignos e não queriam acabar seus dias vivendo num casebre. Por isso viviam na rua do Cemitério.

Todas as noites Daisy caminhava pela rua do Cemitério e dizia "Que noite bonita" e passava ao lado de William e dizia "Que coincidência"; e a cada noite William, também, dizia "Que noite bonita" e "Que coincidência". Assim foi que os dois começaram a conhecer os pensamentos um do outro e mais do que nunca acabaram se cansando disso.

Os dois consertavam seus sapatos no mesmo sapateiro. Os dois sabiam que o sapateiro colocara uma menina para viver com ele na parte dos fundos da sapataria e que logo depois a expulsou dali quando a esposa ficou sabendo de tudo. No entanto, os dois continuaram considerando o sapateiro um bom homem porque não queriam se aborrecer por considerá-lo um mau sujeito. Os dois se arraigavam cada vez mais a suas idéias e hábitos até que...

Não sei o que foi feito dos dois. Nem eles.


-- Laura Riding