a mulher e seu retrato na imprensa:
Embriagada pelo luxo, offuscada pelas joias, estonteada pela febre dos novos rythmos, foi nesta vertigem que Eva antiga perdeu a percepção primeira e o melhor de sua feminilidade... Deixou, com prazer, que a thesoura da moda lhe fosse despoticamente aparando, um a um, os gommos de suas saias amplas que, escondendo-lhe as formas, a cercavam do encanto do pudor e do mysterio. Deformou-se; despojou-se... Encurtou as saias, desnudou os braços e, atando ao pescoço o lenço vermelho do "s'en fichisme", trocou o minuete da galanteria pelo tango apache. A Natureza nas suas fontes puras começou a repugnar-lhe. Adoptou a agua mineral para sua dyspepsia e o estuque plastico para sua anemia, fatigada de insomnia. Com as côres varias da anilina reduziu sua belleza antiga a uma paisagem de tons artificiaes, sobre a qual elevou a architectura de multiplos andares de seus postiços. Tornou-se uma deliciosa boneca, um bibelot extravagante, uma linda flôr de estufa...mas deixou de ser mulher!... Aqueles deliciosos typos de mulher que realizavam sua felicidade inteira na carinhosa sujeição ao seu amor, na doce escravidão de seu affecto. (Cláudio de Souza, Revista Feminina, 1918)
a mulher e os perigos do cinema:
[No cinema] explora-se o escandalo, a futillidade, o amor illegítimo, todas as jaças com que a miseria da carne pollúe a creação divina. Insinua-se a malicia e a experteza malandra; derrama-se no coração ingenuo das esposas fieis o vitriolo do descontentamento, seduzindo-lhes o espirito fraco com a falsa belleza de inverosimeis heroes... Nem só o beijo, o abraço, o gesto lascivo são offerecidos para sobremesa no prato doirado de paisagens maravilhosas a donzellas... que aquillo deviam ignorar. [O cinema] vae mais longe: Apresenta o vicio em todo seu inveridico esplendor, desde os vestibulos sumptuosos de palacios encantados, até a intimidade dos toucadores e das alcovas. (Ana Rita Malheiros, Revista Feminina, 1918)
lar e arredores:
A nossa capital [São Paulo], a despeito dos seus fóros de civilisação, ainda está muito atrazada em materia de mobiliario. Salvo rarissimas excepções, o interior das casas mais ricas caracterisa-se pelo máo gosto... Nós ainda não temos a cultura necessaria para impor um gosto ou um estylo. Temos, pois, de contentar-nos com adoptar os estylos exoticos, importando a mobilia extrangeira, ou fabricando a nossa de accordo com aquelles estylos. Esses estylos são-nos fornecidos pela França, são o Luiz XV, o Luiz XIV, Imperio, e outros; mas todos elles ou quasí todos são sumptuosos. Essa sumptuosidade, é bem de ver, torna-se chocante até, pelo contraste que lhe offerece o ambiente em que ela se vem exhibir. Mas o gosto, ou, melhor, o bom gosto, não reside apenas no luxo. O mobiliario inglez, por exemplo, não tem esse aspecto de sumptuosidade que nós perfeitamente dispensamos... Elle realiza a conjuncção do gosto perfeito com o perfeito conforto... É o que ha de mais hygienico, dando tambem ao ambiente um aspecto de frescura encantadora. (Revista Feminina, março de 1918)
o primeiro partido comunista do Brasil:
Nós, comunistas libertários, não concebemos o comunismo senão como forma social tendente a aumentar o bem-estar e a liberdade individual; e, por isso, somos inimigos irreconciliáveis do coletivismo ou do socialismo de Estado que, tendendo à destruição dos privilégios capitalistas, criam inevitavelmente os privilégios burocratas. (Partido Comunista do Brasil, ideal revolucionário publicado em A Plebe, junho de 1919)
as Letras e a Academia:
Em 1912, pela primeira vez, surge um candidato à Academia Brasileira de Letras que não tinha escrito um único livro. Era Lauro Müller. Para que pudesse ser eleito, publicou em Paris um volume com seus discursos. Usou papel grosso e mesmo assim o resultado foi apenas um folheto. Entretanto, com apoio de um setor da velha guarda, Lauro Müller entrou para o rol dos "imortais". Revoltado, José Veríssimo [um dos fundadores da Academia] renunciou ao cargo de secretário-geral da Academia e definiu seu rompimento com os imortais numa frase: "Deixemos que a Academia se faça à imagem da sociedade a que pertence." (Nosso Século, 1980)