Serafim saiu só pela noite de Jerusalém. Era a rua principal em descida. Penetrou nas luzes do Café Bristol. A sala abafada coloria-se de papel no jazz idiota. Um pianista saracoteava nulamente entre garçons e cadeiras vazias. Havia sírios gordos, homens vagos do Sul, caixeiros, viajantes bêbados e duas alemãzinhas globe-trotters. Um ar de inocência iluminava aquela blasfêmia que um cachorro enorme vigiava. No interior do bar um rei mago tingia um cocktail.
Nosso herói saiu pelo vento. Em cima fazia uma lua paulista. Passou os armazéns, o Hotel Allemby, um café turco. De repente a noite crenelada dos cruzados gritou quem vens lá! A Torre Antônia velava sobre a lama dos quarteirões. Havia sombras de guardas ao lado dos degraus de um portão. Serafim aproximou-se. Eram dois soldados curdos. Perguntou-lhes pelo Santo Sepulcro.
-- Não há nenhum Santo Sepulcro...
-- Como?
-- Nunca houve.
-- E Cristo?
-- Quem?
O outro esclareceu:
-- Cristo nasceu na Bahia.
-- Oswald de Andrade, em "Serafim Ponte Grande".