11.9.02

Guy de Maupassant

"Há alguns dias que ando com um pouco de febre. Sinto-me doente, ou melhor, sinto-me triste. De onde vêm essas influências misteriosas que transformam em desânimo a nossa felicidade e a nossa confiança em angústia? Dir-se-ia que o ar , o ar invisível, está cheio de potências incognoscíveis, de cuja misteriosa vizinhança sofremos a influência. Acordo cheio de alegria, com desejos de cantar -- Por quê? -- Desço até a margem do rio e, de súbito, após um curto passeio, regresso desolado como se alguma desgraça me esperasse em casa. -- Por quê? -- Será que um arrepio de frio, roçando minha pele, abalou meus nervos e entristeceu minha alma? Será que a forma das nuvens ou a cor do dia, a cor das coisas, tão variável, passando por meus olhos, perturbou meu pensamento? Quem sabe? Tudo o que nos cerca, tudo o que vemos sem olhar, tudo o que roçamos sem conhecer, tudo o que tocamos sem apalpar, tudo o que encontramos sem distinguir, causa em nós, em nossos órgãos, e por meio destes, em nossas idéias, e até em nosso coração, efeitos súbitos, surpreendentes e inexplicáveis?"

--- Em "O Horla".