"Naquele tempo o meu pai já tinha morrido definitivamente. Morria várias vezes, mas nunca completamente, sempre com algumas objeções que implicavam a revisão deste fato. O que tinha as suas vantagens. Dividindo a sua morte em prestações, meu pai familiarizava-nos com o fato de seu sumiço. Ficamos indiferentes aos seus retornos, cada vez mais reduzidos e lamentáveis. A fisionomia do já ausente espalhou-se pelo quarto em que vivia, ramificou-se, atando, em certos pontos, extraordinários nós de semelhança e de incrível nitidez. O papel de parede imitava em determinados lugares as contrações de seus tiques, os arabescos compunham-se na anatomia dolorosa do seu riso, dispostos em membros simétricos como a impressão petrificada do trilobite. Por algum tempo contornávamos de longe o seu casaco de pele, plissado de fuinhas. O casaco de pele respirava. O pânico dos pequenos animais costurados, mordendo uns aos outros, passava por ele em espasmos impotentes e perdia-se nas pregas da pele. Encostando o ouvido nela, podia-se ouvir o rosnar melodioso do sono que partilhavam em harmonia. Nesta forma bem curtida, com este leve cheiro de fuinhas, assassinatos e cios noturnos, meu pai poderia durar ainda anos. Mas também aqui ele não agüentou muito tempo."
25.9.02
Bruno Schulz
"Naquele tempo o meu pai já tinha morrido definitivamente. Morria várias vezes, mas nunca completamente, sempre com algumas objeções que implicavam a revisão deste fato. O que tinha as suas vantagens. Dividindo a sua morte em prestações, meu pai familiarizava-nos com o fato de seu sumiço. Ficamos indiferentes aos seus retornos, cada vez mais reduzidos e lamentáveis. A fisionomia do já ausente espalhou-se pelo quarto em que vivia, ramificou-se, atando, em certos pontos, extraordinários nós de semelhança e de incrível nitidez. O papel de parede imitava em determinados lugares as contrações de seus tiques, os arabescos compunham-se na anatomia dolorosa do seu riso, dispostos em membros simétricos como a impressão petrificada do trilobite. Por algum tempo contornávamos de longe o seu casaco de pele, plissado de fuinhas. O casaco de pele respirava. O pânico dos pequenos animais costurados, mordendo uns aos outros, passava por ele em espasmos impotentes e perdia-se nas pregas da pele. Encostando o ouvido nela, podia-se ouvir o rosnar melodioso do sono que partilhavam em harmonia. Nesta forma bem curtida, com este leve cheiro de fuinhas, assassinatos e cios noturnos, meu pai poderia durar ainda anos. Mas também aqui ele não agüentou muito tempo."
23.9.02
Definições de capitalismo
Capitalismo ideal: Você tem duas vacas. Vende uma e compra um touro. Eles se multiplicam, e a economia cresce. Você vende o rebanho e aposenta-se, rico!
Capitalismo americano: Você tem duas vacas. Vende uma e força a outra a produzir leite de quatro vacas. Fica surpreso quando ela morre.
Capitalismo francês: Você tem duas vacas. Entra em greve porque quer três.
Capitalismo canadense: Você tem duas vacas. Usa o modelo do capitalismo americano. As vacas morrem. Você acusa o protecionismo brasileiro e adota medidas protecionistas para ter as três vacas do capitalismo francês.
Capitalismo japonês: Você tem duas vacas. Redesenha-as para que tenham um décimo do tamanho de uma vaca normal e produzam 20 vezes mais leite. Depois cria desenhinhos de vacas chamados Vaquimon e os vende para o mundo inteiro.
Capitalismo italiano: Você tem duas vacas. Uma delas é sua mãe, a outra é sua sogra, maledetto!!!
Capitalismo Enron: Você tem duas vacas. Vende três para a sua companhia de capital aberto usando garantias de crédito emitidas por seu cunhado. Depois faz uma troca de dívidas por ações por meio de uma oferta geral associada, de forma que você consegue todas as quatro vacas de volta, com isenção fiscal para cinco vacas. Os direitos do leite das seis vacas são transferidos para uma companhia das Ilhas Cayman, da qual o sócio majoritário é secretamente o dono. Ele vende os direitos das sete vacas novamente para a sua companhia. O relatório anual diz que a companhia possui oito vacas, com uma opção para mais uma. Você vende uma vaca para comprar um novo presidente dos Estados Unidos e fica com nove vacas. Ninguém fornece balanço das operações e o público compra o seu esterco.
Capitalismo britânico: Você tem duas vacas. As duas são loucas.
Capitalismo holandês: Você tem duas vacas. Elas vivem juntas, não gostam de touros e tudo bem.
Capitalismo alemão: Você tem duas vacas. Elas produzem leite regularmente,segundo padrões de quantidade e horário previamente estabelecido, de forma precisa e lucrativa. Mas o que você queria mesmo era criar porcos.
Capitalismo russo: Você tem duas vacas. Conta-as e vê que tem cinco. Conta de novo e vê que tem 42. Conta de novo e vê que tem 12 vacas. Você pára de contar e abre outra garrafa de vodca.
Capitalismo suíço: Você tem 500 vacas, mas nenhuma é sua. Você cobra para guardar a vaca dos outros.
Capitalismo espanhol: Você tem muito orgulho de ter duas vacas.
Capitalismo português: Você tem duas vacas. E reclama porque seu rebanho não cresce...
Capitalismo chinês: Você tem duas vacas e 300 pessoas tirando leite delas. Você se gaba de ter pleno emprego e alta produtividade. E prende o ativista que divulgou os números.
Capitalismo hindu: Você tem duas vacas. Ai de quem tocar nelas.
Capitalismo argentino: Você tem duas vacas. Você se esforça para ensinar as vacas a mugir em inglês. As vacas morrem. Você entrega a carne delas para o churrasco de fim de ano do FMI.
Capitalismo brasileiro: Você tem duas vacas. Uma delas é roubada. O governo cria a CCPV- Contribuição Compulsória pela Posse de Vaca. Um fiscal vem e te autua, porque embora você tenha recolhido corretamente CCPV, o valor era pelo número de vacas presumidas e não pelo de vacas reais. A Receita Federal, por meio de dados também presumidos do seu consumo de leite, queijo, sapatos de couro, botões, presumia que você tivesse 200 vacas e para se livrar da encrenca, você dá a vaca restante para o fiscal deixar por isso mesmo...
(autor desconhecido)
20.9.02
Pedro Kilkerry
Pedro Kilkerry, poeta baiano, nasceu no final do séc. XIX e é praticamente desconhecido entre nós. Não publicou nada em vida pois detestava escrever e achava que editar livros implicava prostituir-se de alguma forma. Ele escrevia nas paredes, na cabeceira da cama e sabia tudo de memória, dizendo nos bares para os amigos, nunca no papel. O que ficou dele foi publicado pela revista baiana "Nova Cruzada", um movimento de poetas acadêmicos da época. Em 1978, Raymundo Amado fez um documentário sobre o poeta intitulado Harpa esquisita. São deste filme os textos de Kilkerry aqui apresentados.
"...E a gente pensa que a vida é um bem, mas a morte não é um grande mal, como dizia a grega Safo, porque, então, se compreende o panteísmo esquiliano: Zeus é o céu e muito melhor é ainda tudo que está além de tudo isso...por cima de representação comum, onde, aos pares, gozarmos o infinito."
"Há avesso em tudo. Penso nos grandes gestos das individualidades excelsas, no perdão de Jesus, nos passos energicamente espiritualizados de João Huss, caminho da fogueira rubra do Sacrifício, em Giordano Bruno e tantas outras chamas magníficas da vida, largadas como bênçãos sobre a marulhada soturna dos anos que vão, que foram para o cinzento devorante e infinito do Nada."
"A terra gira, quietinha, quietinha, e nós não sabemos nada, nem de nós, nem de nada, na vaidade de nos sabermos cheios de um futuro."
"Uma alma não é discípula de ninguém. Entre espíritos afins pode haver superioridade e inferioridade que não dependem de aprendizagem nenhuma."
"A filosofia já é ação, o sonho é ação, o cinismo, seja ou não por lei obrigatória, é grande parte na ação de dia-a-dia, o heroísmo é o mais humilde operário ou rei do petróleo, a poesia é a própria vida tumultuada, sem retardo, sem moras, sem decrepitude. O metro é livre: vivâmo-lo."
"O homem de hoje deve nascer, nasce, com o instinto da modernidade."
18.9.02
Herculine Barbin
"Inicialmente a intimidade que havia entre mim e Sara era muito admirada, mas com o tempo passou a ser criticada pela maioria das pessoas que a considerava um pouco exagerada e por que não dizer suspeita. Mas estavam ainda muito longe da verdade. Por falta de conhecimento, fazia-se todo tipo de comentários, até que afinal, como sempre, algumas comadres caridosas decidiram prevenir a sra. P., em nome da moral ultrajada por nossa conduta cotidiana diante das alunas. Principalmente eu sofri graves acusações. Transformaram em crime o fato de eu beijar com muita freqüência a srta. Sara. Começamos a observar que, de fato, éramos objeto de sérios exames por parte das alunas mais velhas. Quando me viam abaixar e apertar Sara em meus braços, desviavam a cabeça com embaraço, como se tivessem medo de nos ver ruborescer. As internas principalmente, que nos viam dormir e acordar, manifestaram mais de uma vez seu espanto em relação a determinados detalhes que, sem dúvida, as assustavam. Evidentemente faziam comentários a esse respeito. Daí os rumores que se espalhavam pela cidade. A sra. P., que era extremamente cuidadosa em relação ao bom nome de sua casa, ficou seriamente afetada com isso. Não ousando falar sobre esse assunto comigo, chamou sua filha. "Sara", disse ela, "por favor, daqui por diante seja mais discreta em suas relações com a srta. Camille. Sei que vocês se gostam muito, e de minha parte fico feliz com isso, mas há conveniências que mesmo entre moças devem ser observadas." Esse primeiro ataque nos fez temer pelo futuro. O que seria de nós quando descobrissem a verdade?"
Jorge Luis Borges
"Todas as literaturas começaram pela poesia. Estudei as origens da literatura anglo-saxônica e achei a épica, séculos de épica, antes de chegar à prosa. Os conhecedores deram a explicação: é mais fácil conseguir a unidade de um verso e depois repeti-lo inúmeras vezes, do que se lançar na complexidade da prosa, onde não se pode repetir o jogo. A prosa é complexa, difícil, e para mim na verdade a prosa é a última forma da poesia. O homem começou cantando seus mitos, celebrando seus heróis, seus guerreiros, embora depois, graças a Deus, descobrisse outros temas."
.................................
"A poesia japonesa se baseia no contraste. Não se compara uma coisa com outra, contrasta-se. Um dos mais famosos exemplos da poesia japonesa, traduzido, se expressaria assim: 'Sobre o grande sino de bronze pousou uma borboleta.' Há traduções diferentes, mas é mais ou menos assim. Aí obviamente não se compara nada com nada, se contrasta. O firme e durável sino de bronze com a efêmera borboleta. Não há metáfora."
-
17.9.02
Capinam
"Vou tentar a desistência
vou sentar aqui
ficar sem ir
e esperar por mim que vem atrás
os frutos caem
o carro corre
o poeta morre
o mundo marcha para sua manhã
e a sinfonia não pára
-- sendo fatalidade, fico aqui --
se em tudo existe a própria máquina
pouco acrescenta ir ou não ir
gritam
pulam
ficam eufóricos
nunca práticos
todos teóricos
abrem camisa arrancam gravata
dizem senões
perdem botões
e permanecem homens
............ filhos da hora
............ irmãos do momento
eu vou parar
que venha a noite
se vier com luz
amém
se vier escura
amém
se vier mulher
bem, aí muito bem."
-"Poeta e Realidade (O Desistente)".
vou sentar aqui
ficar sem ir
e esperar por mim que vem atrás
os frutos caem
o carro corre
o poeta morre
o mundo marcha para sua manhã
e a sinfonia não pára
-- sendo fatalidade, fico aqui --
se em tudo existe a própria máquina
pouco acrescenta ir ou não ir
gritam
pulam
ficam eufóricos
nunca práticos
todos teóricos
abrem camisa arrancam gravata
dizem senões
perdem botões
e permanecem homens
............ filhos da hora
............ irmãos do momento
eu vou parar
que venha a noite
se vier com luz
amém
se vier escura
amém
se vier mulher
bem, aí muito bem."
-"Poeta e Realidade (O Desistente)".
16.9.02
Antônio Fraga
Sururu no Mangue
Acabamos de rabiscar esta notícia quando fomos informados de que o delegado anacreonte feitosa em hábil diligência conseguiu encanar quatro estivadores pois suspeita que a sueca tenha entrado de contrabando pelo vapor mauritânia
--- Em "Desabrigo e Outros Trecos".
Alta madrugada oscar pereira vulgo desabrigo topou na rua benedito hipólito com seu velho desafeto amauri dos santos silva mais conhecido na zona do canal e redondezas por cobrinha Gastando sutilezas do vernáculo cobrinha mandou o outro à ponte que caiu e como o já citado outro solicitasse a gaita da passagem lhe deu um tapa ficando a rua assim de gente pra ver o frege Ao ser esculachado desabrigo gritou que era macho e partiu feroz pra dentro de cobrinha empunhando um ferro Este sem dizer ao menos mes amis mes ennemis cherchez l'étoile du matin comprou uma sueca num marujo que gozava o esporro e deu uma solinjada na cara do parceiro abrindo larga avenida na referida cara Com a chegada da canastra cobrinha azulou e desabrigo foi encaminhado ao pronto-socorro onde teve oportunidade de fazer elogiosas referências às novas instalações
Acabamos de rabiscar esta notícia quando fomos informados de que o delegado anacreonte feitosa em hábil diligência conseguiu encanar quatro estivadores pois suspeita que a sueca tenha entrado de contrabando pelo vapor mauritânia
14.9.02
Paul Valéry
A especialidade me é impossível.
Valho um sorriso. Você não é nem
poeta, nem filósofo, nem geômetra ---
nem outra coisa. Você não aprofunda
nada. Com que direito você fala daquilo
a que não se consagrou com
exclusividade?
Eu sou como o olho que vê o que vê.
Seu menor movimento muda o muro em nuvem
a nuvem em relógio; o relógio
em letras que falam. Talvez esteja aí
a minha especialidade.
13.9.02
Rogério Duarte
"como é que é meu caro ezra pound? vou acender um cigarro daqueles para ver se consigo lhe dizer isto. andei fazendo um pouco de tudo aquilo que você aconselhou para desenvolver a capacidade de bem escrever. estudei Homero; li o livro de Fenollosa sobre o ideograma chinês, tornei-me capaz de dedilhar um alaúde; todos os meus amigos agora são pessoas que têm o hábito de fazer boa música; pratiquei diversos exercícios de melopéia, fanopéia e logopéia, analisei criações de vários dos integrantes do seu paideuma.
continuo, no entanto, a sentir a mesma dificuldade do início. uma grande confusão na cabeça tão infinitamente grande confusão um vasto emaranhado de pensamentos misturados com as possíveis variantes que se completam antiteticamente."
11.9.02
19 princípios para a crítica literária
Em 1970 o crítico Roberto Schwarz escreveu o seu irônico "19 Princípios para a Crítica Literária". É curioso constatar como mais de trinta anos depois a maioria deles ainda parecem estar valendo:
-- Acusar os críticos mais velhos de impressionismo, os de esquerda de sociologismo, os minuciosos de formalismo, e reclamar para si uma posição de equilíbrio.
-- Citar em alemão os livros lidos em francês, em francês os espanhóis, e nos dois casos fora de contexto.
-- Nunca apresentar a vida do autor sem antes atacar o método biográfico.
-- Não esqueça: o marxismo é um reducionismo, e está superado pelo estruturalismo, pela fenomenologia, pela estilística, pela nova crítica americana, pelo formalismo russo, pela crítica estética, pela lingüística e pela filosofia das formas simbólicas.
-- Citar muito e nunca a propósito. Uma bibliografia extensa é capital. Apoie a sua tese na autoridade dos especialistas, de preferência incompatíveis entre si.
-- A argumentação deve ser técnica, sem relação com as conclusões.
-- Resolva sempre sem entrar no mérito da questão.
-- A psicanálise está menos superada que o marxismo, mas também é muito unilateral.
-- Publique longos resumos de livros sem importância, convença o editor a traduzi-los e o leitor a lê-los.
-- Um doutoramento vale ouro.
-- Muito cuidado com o óbvio. O mais seguro é documentá-lo sempre estatisticamente! Use um gráfico se houver espaço.
-
Guy de Maupassant
"Há alguns dias que ando com um pouco de febre. Sinto-me doente, ou melhor, sinto-me triste. De onde vêm essas influências misteriosas que transformam em desânimo a nossa felicidade e a nossa confiança em angústia? Dir-se-ia que o ar , o ar invisível, está cheio de potências incognoscíveis, de cuja misteriosa vizinhança sofremos a influência. Acordo cheio de alegria, com desejos de cantar -- Por quê? -- Desço até a margem do rio e, de súbito, após um curto passeio, regresso desolado como se alguma desgraça me esperasse em casa. -- Por quê? -- Será que um arrepio de frio, roçando minha pele, abalou meus nervos e entristeceu minha alma? Será que a forma das nuvens ou a cor do dia, a cor das coisas, tão variável, passando por meus olhos, perturbou meu pensamento? Quem sabe? Tudo o que nos cerca, tudo o que vemos sem olhar, tudo o que roçamos sem conhecer, tudo o que tocamos sem apalpar, tudo o que encontramos sem distinguir, causa em nós, em nossos órgãos, e por meio destes, em nossas idéias, e até em nosso coração, efeitos súbitos, surpreendentes e inexplicáveis?"
--- Em "O Horla".
9.9.02
Oscar Wilde
"Não podemos ser excessivamente cuidadosos ao escolher os nossos inimigos. Nenhum dos que tenho é um imbecil. São todos homens de algum valor intelectual e, por conseguinte, me apreciam."
-
-
6.9.02
Fill with mingled cream and amber
I will drain that glass again.
Such hilarious visions clamber
Through the chamber of my brain ---
Quaintest thoughts --- queerest fancies
Come to life and fade away
What care I how time advances?
I am drinking ale today.
--- Edgar Allan Poe, em "The Unknown Poe", antologia organizada por Raymond Foye.
I will drain that glass again.
Such hilarious visions clamber
Through the chamber of my brain ---
Quaintest thoughts --- queerest fancies
Come to life and fade away
What care I how time advances?
I am drinking ale today.
--- Edgar Allan Poe, em "The Unknown Poe", antologia organizada por Raymond Foye.
4.9.02
Roberto Schwarz
ULISSES
A esperança posta num bonito salário
corações veteranos
Este vale de lágrimas. Estes píncaros de merda.
...............................
JURA
Vou me apegar muito a você
vou ser infeliz
vou lhe chatear
---- Em "26 Poetas Hoje".
A esperança posta num bonito salário
corações veteranos
Este vale de lágrimas. Estes píncaros de merda.
...............................
JURA
Vou me apegar muito a você
vou ser infeliz
vou lhe chatear
---- Em "26 Poetas Hoje".
2.9.02
Abraão Ibn Ezra
AS MOSCAS
Junto a quem fugirei para escapar ao meu tormento?
Lanço os altos brados contra o flagelo das moscas.
Elas não dão o menor sossego à minha vida
e me atacam com todas as forças, como o pior inimigo,
correndo sobre meus olhos e minhas pálpebras
e murmurando a meus ouvidos cantigas de amor.
Eu julgava comer inteiramente só o meu bocado:
eis que também elas o compartilham com apetite de lobo.
Elas bebem até mesmo de meu copo de vinho, como se
eu convidado as tivesse quais amigos ou parentes.
Mas não lhes bastou. Eu as vi sobre o vinho velho
e sobre o meu pedaço predileto de cordeiro
Nada mais lhes resta senão tomar o que eu levo à boca,
disputar-me o vinho que estou para beber e o pedaço que estou para comer.
Que eu convide à mesa os meus íntimos,
elas se metem nos primeiros lugares do festim.
Anseio ardentemente pelo inverno, que as destruirá
no frio das ventanias, das nevascas e dos aguaceiros.
Não fosse isto, elas me fariam horror,
mas, por isto, louvo aquele que está sobre os Querubins.
--- Abraão Ibn Ezra, poeta espanhol do séc. XII.
Junto a quem fugirei para escapar ao meu tormento?
Lanço os altos brados contra o flagelo das moscas.
Elas não dão o menor sossego à minha vida
e me atacam com todas as forças, como o pior inimigo,
correndo sobre meus olhos e minhas pálpebras
e murmurando a meus ouvidos cantigas de amor.
Eu julgava comer inteiramente só o meu bocado:
eis que também elas o compartilham com apetite de lobo.
Elas bebem até mesmo de meu copo de vinho, como se
eu convidado as tivesse quais amigos ou parentes.
Mas não lhes bastou. Eu as vi sobre o vinho velho
e sobre o meu pedaço predileto de cordeiro
Nada mais lhes resta senão tomar o que eu levo à boca,
disputar-me o vinho que estou para beber e o pedaço que estou para comer.
Que eu convide à mesa os meus íntimos,
elas se metem nos primeiros lugares do festim.
Anseio ardentemente pelo inverno, que as destruirá
no frio das ventanias, das nevascas e dos aguaceiros.
Não fosse isto, elas me fariam horror,
mas, por isto, louvo aquele que está sobre os Querubins.
--- Abraão Ibn Ezra, poeta espanhol do séc. XII.
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