Diatribe
Dois zoilos mui completos deste mundo,
Dois zoilos há terríveis e zelosos,
Que estando sem fazer, mui ociosos
Só tratam dum falar nauseabundo.
Eu sei mui bem seus nomes -- não confundo
Com esses bem sensatos, talentosos,
Com esses lidadores mui briosos
Que têm estudo imenso e bem profundo!
Mas ah! pra que tempo hei-de gastar
Com quem só vive imerso na caligem
D’inveja torpe e vil a esbravejar!
Isto, meus amigos, é impigem
Que quanto se procura mais coçar
Tanto e tanto mais só dá prurigem!
Escravocratas
Oh! trânsfugas do bem que sob o manto régio
Manhosos, agachados -- bem como um crocodilo,
Viveis sensualmente à luz dum privilégio
Na pose bestial dum cágado tranqüilo.
Eu rio-me de vós e cravo-vos as setas
Ardentes do olhar -- formando uma vergasta
Dos raios mil do sol, das iras dos poetas,
E vibro-vos a espinha -- enquanto o grande basta
O basta gigantesco, imenso, extraordinário --
Da branca consciência -- o rútilo sacrário
No tímpano do ouvido -- audaz me não soar.
Eu quero em rude verso altivo adamastórico,
Vermelho, colossal, d'estrépito, gongórico,
Castrar-vos como um touro -- ouvindo-vos urrar!
Cruz e Sousa