PAISAGEM PARA A QUEDA DE ÍCARO
Sempre olho pela janela do avião e rezo
para que o sol esteja do outro lado.
Não vê-lo é sempre melhor.
Não há nada pior do que a luz solapando as retinas
para escorrer crânio adentro,
a voz solar de D’us: não há mais o que ver, ou por quê.
Sempre olho pela janela do avião e rezo
para que o sol esteja do lado de dentro.
Não ver é sempre melhor.
Não há nada pior do que a luz desajustando as coisas lá embaixo
enquanto escorro para longe delas,
a voz arranhada do piloto: à esquerda dos senhores, o mar.
Sempre olho pela janela do avião e rezo
para que o mar tome conta do resto
e nos alcance lá em cima.