Dicionário do Diabo
D
Decidir -- sucumbir à preponderância de um conjunto de influências em detrimento de outras.
Dejeuner -- o café da manhã de americanos em Paris. Admite várias pronúncias.
Delegação -- em política, diz-se de mercadoria despachada em grupos.
Deliberação -- ato de examinar o pão de alguém para determinar de que lado está a manteiga.
Democracia -- forma de governo que substitui conselhos de poucos corruptos pela eleição de muitos incompetentes.
Dependente -- aquele que se fia na generosidade alheia para obter a ajuda que não tem condição de arrancar.
Destino -- autoridade do tirano para o crime. Desculpa do idiota para o fracasso.
Dez mandamentos -- condições mínimas e necessárias para não ser um ser humano.
Dia -- período de 24 horas, a maioria das quais mal aproveitadas. O período divide-se em duas partes: o dia propriamente dito e a noite, ou dia impropriamente dito. Dedica-se o dia aos pecados dos negócios e a noite, ao inverso. Estas duas espécies de atividade social se confundem.
Diagnóstico -- prognóstico de uma enfermidade feito por um médico que leva em conta os sintomas e o bolso do paciente.
Difamar -- mentir a respeito de alguém. Falar a verdade a respeito de alguém.
Digestão -- a conversão de víveres em virtudes. Quando o processo é imperfeito, arrota-se vícios.
Dinheiro -- passaporte para a sociedade civilizada.
Diplomacia -- a patriótica arte de mentir pelo país.
Diplomático -- diz-se de todo aquele que nos manda à merda de um jeito tão especial que ficamos ansiosos para que a viagem comece logo.
Discussão -- método de reafirmar os outros em seus erros.
Distância -- a única coisa que os ricos deixam de herança aos pobres para que a guardem bem.
Ditador -- chefe de nação que prefere a pestilência do despotismo à praga da anarquia.
Dívidas -- engenhoso substituto das correntes e chicotes dos tempos da escravatura.
Dor de cabeça -- o anticoncepcional mais utilizado pela mulher.
Dramaturgo -- diz-se daquele que adapta peças dos franceses.
Duas vezes -- uma vez demais.
Duelo -- cerimônia de reconciliação entre dois inimigos.
-- Ambrose Bierce, 1911. Tradução Maira Parula.