10.7.03

Dicionário do Diabo - D

Dicionário do Diabo



D


Decidir -- sucumbir à preponderância de um conjunto de influências em detrimento de outras.

Dejeuner -- o café da manhã de americanos em Paris. Admite várias pronúncias.

Delegação -- em política, diz-se de mercadoria despachada em grupos.

Deliberação -- ato de examinar o pão de alguém para determinar de que lado está a manteiga.

Democracia -- forma de governo que substitui conselhos de poucos corruptos pela eleição de muitos incompetentes.

Dependente -- aquele que se fia na generosidade alheia para obter a ajuda que não tem condição de arrancar.

Destino -- autoridade do tirano para o crime. Desculpa do idiota para o fracasso.

Dez mandamentos -- condições mínimas e necessárias para não ser um ser humano.

Dia -- período de 24 horas, a maioria das quais mal aproveitadas. O período divide-se em duas partes: o dia propriamente dito e a noite, ou dia impropriamente dito. Dedica-se o dia aos pecados dos negócios e a noite, ao inverso. Estas duas espécies de atividade social se confundem.

Diagnóstico -- prognóstico de uma enfermidade feito por um médico que leva em conta os sintomas e o bolso do paciente.

Difamar -- mentir a respeito de alguém. Falar a verdade a respeito de alguém.

Digestão -- a conversão de víveres em virtudes. Quando o processo é imperfeito, arrota-se vícios.

Dinheiro -- passaporte para a sociedade civilizada.

Diplomacia -- a patriótica arte de mentir pelo país.

Diplomático -- diz-se de todo aquele que nos manda à merda de um jeito tão especial que ficamos ansiosos para que a viagem comece logo.

Discussão -- método de reafirmar os outros em seus erros.

Distância -- a única coisa que os ricos deixam de herança aos pobres para que a guardem bem.

Ditador -- chefe de nação que prefere a pestilência do despotismo à praga da anarquia.

Dívidas -- engenhoso substituto das correntes e chicotes dos tempos da escravatura.

Dor de cabeça -- o anticoncepcional mais utilizado pela mulher.

Dramaturgo -- diz-se daquele que adapta peças dos franceses.

Duas vezes -- uma vez demais.

Duelo -- cerimônia de reconciliação entre dois inimigos.


-- Ambrose Bierce, 1911. Tradução Maira Parula.