24.7.15

Anne Sexton II



For My Lover, Returning To His Wife
She is all there.
She was carefully melted down for you
and cast up from your childhood,
cast up from your one hundred favorite aggies.
She has always been there, my darling.
She is, in fact, exquisite.
Fireworks in the dull middle of February
and as real as a cast-iron pot.
Let's face it, I have been momentary.
A luxury. A bright red sloop in the harbor.
My hair rising like smoke from the car window.
Littleneck clams out of season.
She is more than that. She is your have to have,
has grown you your practical your tropical growth.
This is not an experiment. She is all harmony.
She sees to the oars and oarlocks for the dinghy,
has placed wild flowers at the window at breakfast,
sat by the potter's wheel at midday,
set forth three children under the moon,
three cherubs drawn by Michelangelo,
done this with her legs spread out
in the terrible months in the chapel.
If you glance up, the children are there
like delicate balloons rising on the ceiling.
She has also carried each one down the hall
after supper, their heads privately bent,
two legs protesting, person to person
her face flushed with a song and their little sleep.
I give you back your heart.
I give you permission—
for the fuse inside her, throbbing
angrily in the dirt, for the bitch in her
and the burying of her wound —
for the burying of her small red wound alive —
for the pale flickering flare under her ribs,
for the drunken sailor who waits in her left pulse,
for the mother's knee, for the stockings,
for the garter belt, for the call —
the curious call
when you will burrow in arms and breasts
and tug at the orange ribbon in her hair
and answer the call, the curious call.
She is so naked and singular.
She is the sum of yourself and your dream.
Climb her like a monument, step after step.
She is solid.
As for me, I am a watercolor.
I wash off.

Anne Sexton


Anna who was mad

Anna who was mad, 
I have a knife in my armpit.
When I stand on tiptoe I tap out messages.
Am I some sort of infection? 
Did I make you go insane? 
Did I make the sounds go sour? 
Did I tell you to climb out the window? 
Forgive. Forgive.
Say not I did.
Say not.
Say.


Speak Mary-words into our pillow.
Take me the gangling twelve-year-old
into your sunken lap.
Whisper like a buttercup.
Eat me. Eat me up like cream pudding.
Take me in.
Take me.
Take.


Give me a report on the condition of my soul.
Give me a complete statement of my actions.
Hand me a jack-in-the-pulpit and let me listen in.
Put me in the stirrups and bring a tour group through.
Number my sins on the grocery list and let me buy.
Did I make you go insane? 
Did I turn up your earphone and let a siren drive through? 
Did I open the door for the mustached psychiatrist
who dragged you out like a gold cart? 
Did I make you go insane? 
From the grave write me, Anna! 
You are nothing but ashes but nevertheless
pick up the Parker Pen I gave you.
Write me.
Write.



Lisa Gerrard - Sanvean ( I Am Your Shadow)

16.7.15

12.7.15

Carlos Henrique Escobar





[sobre o filósofo hoje]

No mundo contemporâneo, o filósofo permanece bastante indefinido. Jornalistas no Brasil são filósofos. As TVs os chamam às vezes de filósofos, de intelectuais, de sábios -- como [Antônio] Cícero, Caetano, Zuenir [Ventura], Paulo Coelho e vários outros. Eles acreditam escrever livros e até livros de filosofia, e têm imensa cobertura da mídia. Isso no Brasil e no mundo impõe a banalidade. Com o tempo, os filósofos deixaram de falar para "plantarem" bombas onde os donos do mundo se reúnem.

Lembrei-me do irmão de uma cantora do Rio que os jornais chamam de filósofo, de poeta, e ninguém sabe a partir de quê. Borges já dizia que há menos pessoas capazes de ler e avaliar poesias do que aqueles que as escrevem. Quanto aos seus textos filosóficos, ele é um repetidor de uma leitura mal feita deste ou daquele filósofo. Chama-se Cícero e parece gostar de tudo isso. Mas há aí um Olavo de Carvalho e milhares de pastores com folha corrida.

De outro lado, até mesmo as unidades de filosofia das universidades em todo o mundo estão crescentemente vazias, e a juventude deixou de subverter, de pensar, de se comover. O abandono do pensamento aposta no êxito e na duração de um capitalismo que acumula por meio de produções automatizadas.

[sobre filosofia brasileira]

Acho que não podemos falar de uma filosofia brasileira. Em uma outra época, se fossemos alunos da Universidade de São Paulo (USP) com a Folha de São Paulo nos chamando de filósofos, seríamos iludidos pelo bairrismo dela e por nossa ignorância.

Cito exemplos: Gianotti jamais filosofou. Repetia sempre um Hegel, uma fenomenologia, um marxismo sartriano. Hoje mais Wittgenstein. É tão ingênuo que se autodenominou recentemente de "mandarim da filosofia no Brasil". Bento Prado - por quem tenho imenso carinho pessoal - foi aos poucos se diluindo como filósofo e como pessoa na USP e em São Carlos. Tornou-se, até falecer, um pensador en passant e sem obra.

Marilena Chauí avalia-se pelos empregos que consegue. Ela toma e retoma vazias posições de esquerda, sem militância, e na retórica francesa de que seguidamente se apropria. O Partido dos Trabalhadores (PT) uma vez a transformou em secretária da Cultura. Ela fez uma gestão insossa, que nem de longe pode ser comparada com a do poeta, assumidamente reacionário -- mas nem por isso um poeta menor -- Mário Chamie. Não nego seu sucesso em livros de introdução à filosofia e na divulgação de ambíguas opiniões políticas.

O PT -- de que no Rio fui um dos fundadores, assim como Wladimir Palmeira, Maria da Glória e tantos outros -- traiu-nos. Lula foi sempre um ambíguo líder sindical, como quase todos que domesticam os trabalhadores, sem falar agora na sistemática corrupção dos dirigentes. Ele não usou as dezenas de anos de licença das fábricas para se alfabetizar. Juntou-se a certos companheiros, rasgaram a carta de princípios e se uniram a Sarney, Maluf e Collor a caminho de algo que vamos adivinhando e contra o qual devemos lutar. Ele disse na televisão que não tinha simpatia por socialistas, e dando as mãos a um dos homens mais ricos do mundo -- ele é brasileiro -- lembrou que o capital financeiro nunca lucrou tanto quanto no seu governo.

Minha vida antes como militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), de onde fui expulso, foi a de um funcionário lobotomizado que obedecia ou era proibido de dar opinião. Comunista me tornei (e atenção) ao combatê-los, ao deplorar os stalinistas.

Fui, junto com o Wladimir Herzog, os dois paulistanos que foram mandados pelo Paulo Emílio para fazer um curso de cinema financiado pelo Itamaraty, no Rio. Desse curso nasceu o Cinema Novo brasileiro que teve e tem prestígio internacional. Nunca escrevi nem falei da minha convivência com Herzog. Sua morte deu-se mais de uma dezena de anos depois e os stalinistas me perseguiam tanto ou mais do que os militares e a polícia política.

[sobre Portugal]

Lembro que Portugal, nestes 15 anos que estou aqui, foi sempre governado pela direita. Socialistas e salazaristas são aqui a mesma coisa. Segundo um documento da União Europeia, trata-se de um dos países mais corruptos, onde surpreendentemente, a juventude nem mesmo lê jornal.

Dei conferências e participei de seminários no país ao chegar, durante o primeiro ano, depois desapareci e eles também desapareceram. Eles vivem entre si em uma usura entranhada. É um país racista e amplamente ressentido com as colônias que perdeu. Explorou os negros da África e é um país que não tem negros nas ruas.

----------------------------------------------

(Carlos Henrique Escobar, filósofo, poeta e dramaturgo autoexilado em Portugal, em entrevista ao prof. e escritor Marcio Salgado, para a Revista Filosofia, portal Uol, 2015.)


4 poemas de Alex Polari - 1978



Amar em aparelhos

Era uma coisa louca
trepar naquele quarto
com a cama suspensa
por quatro latas
com o fino lençol
todo ele impresso
pelo valor de teu corpo
e a tinta do mimeógrafo.

Era uma loucura
se despedir da coberta
ainda escuro
fazer o café
e a descoberta
de te amar
apesar dos pernilongos
e a consciência
de que a mentira
tem pernas curtas.

Não era fácil
fazer o amor
entre tantas metralhadoras
panfletos, bombas
apreensões fatais
e os cinzeiros abarrotados
eternamente com o teu Continental,
preferência nacional.

Era tão irracional
gemer de prazer
nas vésperas de nossos crimes
contra a segurança nacional
era duro rimar orgasmo
com guerrilha
e esperar um tiro
na próxima esquina.

Era difícil
jurar amor eterno
estando com a cabeça
prêmio
pois a vida podia terminar
antes do amor.



Noites no PP (Presídio H. Gomes)

Estou aqui, pessoal, na C-8
nossa cela de passagem
nesse famigerado
Presídio Hélio Gomes
ex-Pp,
Presídio Policial,
rodeado de faqueiros
bichas, fanchones
guardas e faxinas.
No alto de minha beliche de pedra
leio o semanário Opinião,
autores latino-americanos
e vez ou outra espio a TV.
Porto apenas uma cueca Zorba
fumo incontáveis cigarros
Hollywood
bebo infindáveis canecas
de café Pelé
e em vez de grilhetas,
calço as legítimas sandálias
Havaianas.
Discuto a formação do Partido
os males da monogamia
relembro tiroteios e trepadas
e breve, após o confere,
ainda com as feridas da última visita
na capela,
sonharei com os anjos
pendurados em paus-de-arara
celestes.


ZOOLÓGICO HUMANO

o que somos
é algo distante
do que fomos

ou pensamos ser.
Veja o mundo:
ele se move
sem nossa interferência
veja a vida:
ela prossegue
sem nossa licença
veja sua amiga:
ela se comove
por outros corpos
que não o seu.

Somos simplesmente
o que é mais fácil ser:
lembrança
sentimento fóssil
referência ética
apenas um belo ornamento
para a consciência dos outros.

A quem interessar possa:
Estamos abertos à visitação pública
sábados e domingos
das 8 às 17 horas.

Favor não jogar amendoim.



Escusas Poéticas II

Alguns companheiros reclamam
que entre tantas imagens bonitas
eu diga em meus poemas que gosto de chupar bucetas
e não vejo como isso atrapalhe a marcha para o socialismo
que é também o meu rumo. Mais ainda,
eu gostaria que nessa nova sociedade por qual luto
todos passassem a chupar bucetas a contento
todos redescobrissem seus corpos massacrados
todos descobrissem que o medo e a aversão ao prazer
a que foram submetidos foi e será sempre
apenas a estratégia dos tiranos.
Outros companheiros reclamam
quanto ao uso da 1a pessoa
em meus poemas, a falta de desfechos
corretos do ponto de vista político
e os resquícios da classe que pertenço.
A isso tudo procuro responder
que a poesia reflete uma vivência particular,
se universaliza apenas nessa medida
e que não adianta você inventar um caminho
para um povo que você não conhece nem soube achar.
Eu bem que gostaria de ter essa solução, é minha senda,
eu estou sinceramente do lado dos oprimidos
só que de uma maneira abstrata
o que errei, errei por eles,
num processo não despido de angústia
e minha poesia teria que se ressentir disso.
Quanto as outras críticas,
o que posso dizer é que a falta de lógica de meus sentimentos
não acompanha a lógica dos manuais de dialética
e que minhas intenções e objetivos
nem sempre correspondem à minha vida real.
O que muitos não entendem
é que eu quero muito falar do meu povo
da sabedoria dele,
das coisas simples
que lhe são mais imediatas
mas que esse canto hoje soaria falso
e que só posso falar disso
quando não precisar inventar nada,
quando minha práxis for essa
o caminho escolhido o certo,
quando não precisar de metáforas.
O dia da redenção tanto pode ser uma aurora quanto um poente,
isso pouco importa
desde que se cante e anuncie
de todas as formas possíveis.