3.3.15

5 poemas de Ribeiro Couto






Insônia

                              
O latido dos cães, na noite sem lua,
dá-me pavores vagos.
Por que latem aqueles cães lá longe?


As árvores, ali fora, estão imóveis.
Nem um sopro de vento bole nas folhas.
E tudo tão negro, na noite sem lua!


Por que latem aqueles cães lá fora?
Quem terá passado na estrada?


Na minha lâmpada mariposas batem.
Deve ser tarde.
Os meus olhos errando pelo pasto.


Ouço o tilinte vigilante de um cincerro…
É um cavalo errando pelo pasto.


E lá longe os cães latindo, desesperados, como se batalhassem,
como se defendessem o lugarejo adormecido.


Noite de insônia inquieta ao pé da lâmpada.


*

Brinquedo na piscina

Não voltou. A piscina
Lisa é como um retalho
Azul na luz matutina.

A mãe aos gritos se descabela.
Ralhava sempre, mas tanto ralho
De que serviu? Lamenta-se ela.

Imóvel no fundo da piscina,
Não se sabe se finge de peixe
Ou brinca de pesca submarina.
Parece pedir que a mãe o deixe.

*

A mulher passageira

Esta mulher que prometeu vir
Não é a mulher do meu desejo
É antes a mulher do meu tédio...

Ela virá dentro de uns instantes.
Vai bulir em todas as coisas,
Vai andar por estes tapetes,
Perguntará por outras mulheres.

Responderei a tudo com doçura...
Entretanto, é a mulher do meu tédio.

E ao partir, distraída e fatigada,
Escolherá um livro na estante
Perguntando: "Meu amor, vale a pena?"

*


Chuva

A chuva fina molha a paisagem lá fora.
O dia está cinzento e longo… Um longo dia!
Tem-se a vaga impressão de que o dia demora…
E a chuva fina continua, fina e fria,
Continua a cair pela tarde, lá fora.

Da saleta fechada em que estamos os dois,
Vê-se, pela vidraça, a paisagem cinzenta:
A chuva fina continua, fina e lenta…
E nós dois em silêncio, um silêncio que aumenta
se um de nós vai falar e recua depois.

Dentro de nós existe uma tarde mais fria…
Ah! Para que falar? Como é suave, branda,
O tormento de adivinhar — quem o faria? —
As palavras que estão dentro de nós chorando…
Somos como os rosais que, sob a chuva fria,
Estão lá fora no jardim se desfolhando.
Chove dentro de nós… Chove melancolia…
*

Poesia

E te envolverão com atitudes sinistras.
E desejarão secretamente a tua morte.
E atirarão sobre a tua cabeça
O riso fácil das incompreensões.

Entretanto, dentro de ti, indiferentes,
Como a chuva mansa caindo num jardim,
As palavras melancólicas de poesia
Abençoarão a trágica doçura da vida.