Levo na bagagem
A camisa volta ao mundo
Já puída que me deste nos anos 60
E o destino que escolhi:
Detalhe que ninguém olha
Caçador de coisas utópicas
Mas guarde esses demorados beijos
Junto da sua vitrola
Vinho e tubo de cola
Porque daqui a pouco
Os sonhos podem se descolar da razão
Eis aí um dos poemas de Paulo Custódio, o poeta e amigo desde sempre Paco Cac. Companheiro de lutas de outros tempos, professor de literatura e estudioso das revistas literárias já publicadas neste país. Paco foi-se embora. Não sei pra onde. Ficam a saudade imensa e as belas palavras de Luiz Dulci ditas uma vez sobre o nosso amigo.
“Paco viveu tudo. Paco morreu tudo. Trinta anos, ou mais, de estrada. Todas as andanças, todas as paragens. Sofregamente. Paixões, náuseas, esperanças, vertigens. As suas e as nossas. Do corpo e do tempo. Mas, depois de tudo, o que fica não é a saciedade, a consciência aplacada, não é a pretensa sabedoria do vivido. Não é a maturidade. Em Paco, não. Depois de tudo, o que brota é a inocência. É uma outra inocência. / “Áspera e macia, / fenda de sol e frescor / Sobre o pilar.” / É a inocência (não ingênua: lúcida) que percorre, ainda e sempre, a bela Guanabara, sua e nossa, com um olhar inaugural, capaz de surpreender, por entre “mangues e palácios”, em meio às “vozes do fim”, o pulso insubmisso da cidade, “os sons de toda paz que se faz” — o perene “hino das manhãs”. Só um eterno suburbano como Paco poderia subir, como ele sobe, o outeiro da Glória e de lá do alto fazer a “deus dos céus”, como ele faz, uma belíssima prece pagã.”