9.4.10





Dois homens parados na rua.
Seguem em direções opostas.
Estou dentro do carro.
Não chove porque já choveu
tudo que havia para chover.
Os homens tiram a capa.
O para-brisa marca os segundos.
Os homens não param.
Saem pelos cantos do retrovisor.
Viro à esquerda.
Dou a volta no quarteirão.
Lá está outro, parado.
Vem na minha direção.
Não preciso do retrovisor para ver
que leva a mão ao bolso da calça
e puxa um estilete/carteira/revólver?
Estou dirigindo sem óculos.
Uma imprudência.
Os vidros elétricos sobem.
Abro o porta-luvas e destravo minha Ratzinger.
O homem olha fixamente para mim.
Não me reconhece.
Passa direto e atravessa a rua.
Do outro lado a mulher espera.
Abraços e vão beber sozinhos.
Enfio o pé no acelerador
e eles ficam para trás.
Parados para sempre.
Digo a mim mesmo que estou ficando senil.
E concordo.


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