21.12.08
Ernst Meister
Na beira do mar
Na beira do mar
os risos: pescaram
um peixe que fala.
Mas ele diz
o que todo mundo já sabe.
Ernst Meister, trad. MP.
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20.11.08
15.11.08
Fiama Hasse Pais Brandão
7.11.08
29.10.08
Casas de pó
Alguém já disse que os artistas precisam criar na mesma proporção da capacidade que a sociedade tem de destruir. É no que parece acreditar a artista colombiana radicada em Miami, Maria Adelaida Lopez, com suas "Casas de Pó". Enquanto a civilização limpa o seu pó e dá as costas, ela confecciona sua obra com casas de boneca e o pó dos aspiradores, formando paisagens da vida doméstica, da vida de dentro e de fora.
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22.10.08
Inscription for the ceiling of a bedroom
Daily dawns another day;
I must up, to make my way.
Though I dress and drink and eat,
Move my fingers and my feet,
Learn a little, here and there,
Weep and laugh and sweat and swear,
Hear a song, or watch a stage,
Leave some words upon a page,
Claim a foe, or hail a friend --
Bed awaits me at the end.
Though I go in pride and strength,
I'll come back to bed at length.
Though I walk in blinded woe,
Back to bed I'm bound to go.
High my heart, or bowed my head,
All my days but lead to bed.
Up, and out, and on; and then
Ever back to bed again,
Summer, Winter, Spring, and Fall --
I'm a fool to rise at all!
Dorothy Parker
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20.10.08
Procura-se um poema erótico que não faça sexo
Procura-se um poema erótico que não faça sexo, que não use as palavras contornos, curvas, fendas, gretas, canais, seios, gemidos, ventre, flancos, orgasmos, espasmos, espermas, gritos, gozo, bocas, dentes, desejo, língua, lábios, lóbulos, nádegas, coxas, corpos, beijos, abraços, mãos, dedos, mamilos, orelhas, cabelos, saliva, pernas, quadris, rego, abertura, carne, cama, lençóis, roupas, travesseiro, sucos, sumos, êxtase, febre, calor, suor, umidade, líquidos, pele, peso, teso, penugem, órgão, tato, encaixe, coração, paixão, prazer, ponto g, sedas, poros, incêndio, libido, dentro, fora, duro, mole, seco, molhado, hálito, adagas, facas, velas, varas, baloiço das ancas, pênis, vagina, ânus, clitóris e seus semelhantes, palavras estas que já começam a brochar e entediar os leitores. Cartas ao editor.
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13.10.08
Mário de Sá-Carneiro
Meu querido Amigo, não sei por quê eu já não venho ao Café Riche. Talvez porque na mesa do fundo, ali no canto - onde um "monsieur decoré" se embebe do TEMPS - receie encontrar o Sá-Carneiro, o Mário, de 1913, que era mais feliz, pois acreditava ainda na sua desolação... Enquanto hoje... Descia-a toda; no fundo é uma coisa peganhenta e açucarada, digna de lástima e só para os rapazes do liceu a receberem à tourada. Creia o meu Amigo que é absolutamente assim - sem literatura má, sem paulismo, afianço-lhe. / A verdade nua e crua:
- Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos berros e aos pinotes -
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas.
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza:
A um morto nada se recusa,
E eu quero por força ir de burro...
Mas então para fixar o instante desta minha vinda ao Café Riche, onde agora já não entro com medo de encontrar o Mário - hoje felizmente ele não estava, estava só o monsieur do TEMPS - envio-lhe esta carta inútil e riscada que você perdoará, hem?
(Mário de Sá-Carneiro, em carta a Fernando Pessoa de 16 de fevereiro de 1916, dois meses antes de seu suicídio. O poema levou o título de "Fim".)
11.10.08
Jacques Lacan
O amor é dar o que não se tem
a alguém que não o quer.
- Conferência de Louvain, 13 de outubro de 1972.
29.9.08
Luis de Góngora
16.9.08
Drummond em miguxês
nU 1/2 Du kaMinhU tinHah 1 pedRaH
tiNhah 1 PEDrah nU 1/2 dU KaMinhU
tinHah 1 PedrAH
Nu 1/2 du KaminhU tINhah 1 PeDrAH
NuncaH mE eSKecEREi dEXXi ACoNTeciMenTu
nAH VIDAh DI minHaxXx retinAxXx taUm FAtigadaxXx
NUNcAH Me esKECereI ki nU 1/2 dU KAmiNhU
TInHah 1 peDrAh
TInHaH 1 PEDraH nu 1/2 du kaMiNHU
NU 1/2 du kaMInhU TINHaH 1 PEdrah
10.9.08
4.9.08
andre jordan, que começou um blog belíssimo em 2004 por conta de uma depressão e publicou seu primeiro livro de ilustrações, If you are happy and you know it, no ano passado.
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31.8.08
Bons ventos do Distrito Federal. De 3 a 7 de setembro acontece a I Bienal Internacional de Poesia de Brasília, onde será realizada também a Mostra Revistas Brasileiras de Poesia na Biblioteca Central da UnB de 1 a 11 de setembro. A mostra, organizada pelo poeta e professor Paulo Custódio (Paco Cac), apresentará todas as revistas que se tornaram ícones da história literária brasileira. Não perca.
--
26.8.08
desdenha os grandes saltos na inquietação e no obscuro,
Digo TUDO: as casas cheias de sombra e promessas aliciantes,
os grandes becos da nevrose, o tóxico, os olhos insones do
ciúme, as renúncias nas sacristias afastadas, os livros da
magia, os claros escritórios do jogo e da ambição, o inimigo
subterrâneo que nos saúda, a prostituta que nos recebe
Que melancólico crepúsculo o que se acende acima dos desejos satisfeitos.
--
texto: Lúcio Cardoso, Diário completo.
--
20.8.08
Poema de Julio Cortázar
Entro de noite em minha cidade, desço na minha cidade
onde me esperam ou me evitam, onde tenho que fugir
de algum encontro abominável, do que já não tem nome,
um encontro com dedos, com pedaços de carne num armário,
com um chuveiro que não acho, em minha cidade há chuveiros,
há um canal que corta ao meio a minha cidade
e navios enormes sem mastros passam num silêncio intolerável
para um destino que eu sei mas que esqueço ao voltar,
para um destino que nega a minha cidade
onde ninguém embarca, onde se está para ficar
embora os barcos passem e do convés liso alguém esteja
olhando para a minha cidade.
Entro sem saber como na minha cidade, às vezes outras noites
saio às ruas ou às casas e sei que não é na minha cidade,
a minha cidade eu conheço por uma expectativa acachapada,
algo que ainda não é o medo mas tem sua forma e seu cachorro
e quando é a minha cidade
sei que primeiro haverá o mercado com portais e casas de frutas,
os trilhos reluzentes de um bonde que se perde num rumo
onde fui jovem mas não em minha cidade, um bairro como
o Once em Buenos Aires, um cheiro de colégio,
muros tranquilos e um cenotáfio branco, a calle Veinticuatro de
Noviembre
talvez, onde não há cenotáfios mas está em minha cidade quando
é sua noite.
Entro pelo mercado que condensa a umidade de um presságio
ainda indiferente, ameaça benévola, ali as vendedoras de frutas
me olham
e me desafiam, plantam em mim o desejo, chegar onde for
necessário e podridão,
o podre é a chave secreta em minha cidade, uma fecal indústria de
jasmins de cera,
a rua que serpenteia, que me leva ao encontro daquilo que não sei,
as caras das vendedoras de peixe, seus olhos que não olham e é a
intimação,
e então o hotel, o desta noite porque amanhã ou algum dia será
outro,
a minha cidade são hotéis infinitos e sempre o mesmo hotel,
varandas tropicais de bambus e venezianas e vagos mosquiteiros e
um cheiro de canela e açafrão,
quartos em sequência com seus papéis claros, suas poltronas
de vime
e os ventiladores num céu cor-de-rosa, com portas que não
dão para lugar algum,
que dão para outros quartos onde há ventiladores e mais portas,
elos secretos do encontro, e é preciso entrar e continuar pelo
hotel deserto
e às vezes é um elevador, na minha cidade há tantos elevadores,
há quase sempre um elevador
onde o medo já começa a coagular, mas outras vezes estará vazio,
quando é pior estão vazios e eu devo viajar interminavelmente
até que pára de subir e desliza horizontal, na minha cidade
os elevadores como caixas de vidro que avançam em ziguezague
atravessam pontes cobertas entre dois edifícios e embaixo se
abre a cidade e cresce a vertigem
porque entrarei outra vez no hotel ou nas desabitadas galerias
de algo
que já não é o hotel, a mansão infinita a que conduzem
todos os elevadores e portas, todas as galerias,
e é preciso sair do elevador e procurar um chuveiro ou uma privada
porque sim, sem razões, porque o encontro é um chuveiro ou
uma privada e não é o encontro,
buscar a felicidade de cuecas, com um sabonete e um pente
mas sempre sem toalha, é preciso encontrar a toalha e a privada,
minha cidade são privadas incontáveis, sujas, com portinholas
de janelinhas
sem ferrolhos, fedendo a amoníaco, são os chuveiros, estão num
mesmo enorme quadrado de chão imundo
e uma circulação de pessoas que não têm figura mas que estão ali
nos chuveiros, enchendo as privadas onde também estão os
chuveiros,
onde devo tomar banho mas não há toalhas e não há
onde botar o pente e o sabonete, onde deixar a roupa, porque
às vezes
estou vestido na minha cidade e depois do chuveiro irei ao
encontro, andarei pela rua de calçadas altas, uma rua que existe
na minha cidade
e que sai para o campo, me afasta do canal e dos bondes
por suas toscas calçadas de tijolos gastos e suas sebes,
seus encontros hostis, seus cavalos fantasmas e seu cheiro de
desgraça.
Então andarei pela minha cidade e entrarei no hotel ou do hotel irei
para a zona das privadas ressumantes de urina e de
excremento,
ou estarei contigo, amor meu, porque contigo desci alguma vez
para a minha cidade
e num bonde espesso de passageiros estranhos sem figura
compreendi
que a abominação se aproximava, que ia acontecer o Cão e quis
aconchegar-te a mim, te proteger do espanto,
mas tantos corpos nos separavam, e quando te obrigavam a
descer entre um confuso movimento
não pude te seguir, lutei com a goma insidiosa de lapelas e caras,
com um guarda impassível e a velocidade e buzinas,
até me arrancar numa esquina e pular e estar só numa praça
ao crepúsculo
e saber que gritavas e gritavas perdida na minha cidade, tão
perto e inencontrável,
para sempre perdida em minha cidade, e isso era o Cão, era o encontro,
inapelavelmente era o encontro, separados para sempre na minha
cidade onde
não haveria hotéis para ti nem elevadores nem chuveiros, um
horror de estar sozinha enquanto alguém
se aproximaria sem falar para te encostar um dedo pálido na boca.
Ou a variante, estar olhando minha cidade da borda
do navio sem mastros que cruza o canal, um silêncio de aranhas
e um suspenso deslizar para aquele rumo que não alcançaremos
porque em algum momento já não há mais barco, tudo é plataforma
e trens errados,
as malas perdidas, os inúmeros trilhos
e os trens imóveis que subitamente se deslocam e já não é a
plataforma,
é preciso atravessar para encontrar o trem e as malas se perderam
e ninguém sabe de nada, tudo é cheiro de breu e de uniformes de
guardas impassíveis
até subir naquele vagão que vai sair, e percorrer um trem que
não acaba nunca
onde as pessoas comprimidas dormem em quartos de móveis
cansados,
com cortinas escuras e uma respiração de poeira e cerveja,
e será necessário andar até o final
do trem porque em algum
lugar é preciso encontrar-se,
sem que se saiba quem, o encontro era com alguém que não
se sabe e as malas se perderam
e tu, de quando em quando, também estás na estação mas teu trem
é um outro trem, teu Cão é outro Cão, não nos encontraremos,
amor meu,
te perderei outra vez no bonde ou no trem, de cuecas correrei
por entre gente apinhada e dormindo nos compartimentos onde uma
luz roxa
cega os panos empoeirados, as cortinas que escondem a minha
cidade.
Julio Cortázar
--
onde me esperam ou me evitam, onde tenho que fugir
de algum encontro abominável, do que já não tem nome,
um encontro com dedos, com pedaços de carne num armário,
com um chuveiro que não acho, em minha cidade há chuveiros,
há um canal que corta ao meio a minha cidade
e navios enormes sem mastros passam num silêncio intolerável
para um destino que eu sei mas que esqueço ao voltar,
para um destino que nega a minha cidade
onde ninguém embarca, onde se está para ficar
embora os barcos passem e do convés liso alguém esteja
olhando para a minha cidade.
Entro sem saber como na minha cidade, às vezes outras noites
saio às ruas ou às casas e sei que não é na minha cidade,
a minha cidade eu conheço por uma expectativa acachapada,
algo que ainda não é o medo mas tem sua forma e seu cachorro
e quando é a minha cidade
sei que primeiro haverá o mercado com portais e casas de frutas,
os trilhos reluzentes de um bonde que se perde num rumo
onde fui jovem mas não em minha cidade, um bairro como
o Once em Buenos Aires, um cheiro de colégio,
muros tranquilos e um cenotáfio branco, a calle Veinticuatro de
Noviembre
talvez, onde não há cenotáfios mas está em minha cidade quando
é sua noite.
Entro pelo mercado que condensa a umidade de um presságio
ainda indiferente, ameaça benévola, ali as vendedoras de frutas
me olham
e me desafiam, plantam em mim o desejo, chegar onde for
necessário e podridão,
o podre é a chave secreta em minha cidade, uma fecal indústria de
jasmins de cera,
a rua que serpenteia, que me leva ao encontro daquilo que não sei,
as caras das vendedoras de peixe, seus olhos que não olham e é a
intimação,
e então o hotel, o desta noite porque amanhã ou algum dia será
outro,
a minha cidade são hotéis infinitos e sempre o mesmo hotel,
varandas tropicais de bambus e venezianas e vagos mosquiteiros e
um cheiro de canela e açafrão,
quartos em sequência com seus papéis claros, suas poltronas
de vime
e os ventiladores num céu cor-de-rosa, com portas que não
dão para lugar algum,
que dão para outros quartos onde há ventiladores e mais portas,
elos secretos do encontro, e é preciso entrar e continuar pelo
hotel deserto
e às vezes é um elevador, na minha cidade há tantos elevadores,
há quase sempre um elevador
onde o medo já começa a coagular, mas outras vezes estará vazio,
quando é pior estão vazios e eu devo viajar interminavelmente
até que pára de subir e desliza horizontal, na minha cidade
os elevadores como caixas de vidro que avançam em ziguezague
atravessam pontes cobertas entre dois edifícios e embaixo se
abre a cidade e cresce a vertigem
porque entrarei outra vez no hotel ou nas desabitadas galerias
de algo
que já não é o hotel, a mansão infinita a que conduzem
todos os elevadores e portas, todas as galerias,
e é preciso sair do elevador e procurar um chuveiro ou uma privada
porque sim, sem razões, porque o encontro é um chuveiro ou
uma privada e não é o encontro,
buscar a felicidade de cuecas, com um sabonete e um pente
mas sempre sem toalha, é preciso encontrar a toalha e a privada,
minha cidade são privadas incontáveis, sujas, com portinholas
de janelinhas
sem ferrolhos, fedendo a amoníaco, são os chuveiros, estão num
mesmo enorme quadrado de chão imundo
e uma circulação de pessoas que não têm figura mas que estão ali
nos chuveiros, enchendo as privadas onde também estão os
chuveiros,
onde devo tomar banho mas não há toalhas e não há
onde botar o pente e o sabonete, onde deixar a roupa, porque
às vezes
estou vestido na minha cidade e depois do chuveiro irei ao
encontro, andarei pela rua de calçadas altas, uma rua que existe
na minha cidade
e que sai para o campo, me afasta do canal e dos bondes
por suas toscas calçadas de tijolos gastos e suas sebes,
seus encontros hostis, seus cavalos fantasmas e seu cheiro de
desgraça.
Então andarei pela minha cidade e entrarei no hotel ou do hotel irei
para a zona das privadas ressumantes de urina e de
excremento,
ou estarei contigo, amor meu, porque contigo desci alguma vez
para a minha cidade
e num bonde espesso de passageiros estranhos sem figura
compreendi
que a abominação se aproximava, que ia acontecer o Cão e quis
aconchegar-te a mim, te proteger do espanto,
mas tantos corpos nos separavam, e quando te obrigavam a
descer entre um confuso movimento
não pude te seguir, lutei com a goma insidiosa de lapelas e caras,
com um guarda impassível e a velocidade e buzinas,
até me arrancar numa esquina e pular e estar só numa praça
ao crepúsculo
e saber que gritavas e gritavas perdida na minha cidade, tão
perto e inencontrável,
para sempre perdida em minha cidade, e isso era o Cão, era o encontro,
inapelavelmente era o encontro, separados para sempre na minha
cidade onde
não haveria hotéis para ti nem elevadores nem chuveiros, um
horror de estar sozinha enquanto alguém
se aproximaria sem falar para te encostar um dedo pálido na boca.
Ou a variante, estar olhando minha cidade da borda
do navio sem mastros que cruza o canal, um silêncio de aranhas
e um suspenso deslizar para aquele rumo que não alcançaremos
porque em algum momento já não há mais barco, tudo é plataforma
e trens errados,
as malas perdidas, os inúmeros trilhos
e os trens imóveis que subitamente se deslocam e já não é a
plataforma,
é preciso atravessar para encontrar o trem e as malas se perderam
e ninguém sabe de nada, tudo é cheiro de breu e de uniformes de
guardas impassíveis
até subir naquele vagão que vai sair, e percorrer um trem que
não acaba nunca
onde as pessoas comprimidas dormem em quartos de móveis
cansados,
com cortinas escuras e uma respiração de poeira e cerveja,
e será necessário andar até o final
do trem porque em algum
lugar é preciso encontrar-se,
sem que se saiba quem, o encontro era com alguém que não
se sabe e as malas se perderam
e tu, de quando em quando, também estás na estação mas teu trem
é um outro trem, teu Cão é outro Cão, não nos encontraremos,
amor meu,
te perderei outra vez no bonde ou no trem, de cuecas correrei
por entre gente apinhada e dormindo nos compartimentos onde uma
luz roxa
cega os panos empoeirados, as cortinas que escondem a minha
cidade.
Julio Cortázar
--
10.8.08
31.7.08
Luiza Neto Jorge
As casas vieram de noite
As casas vieram de noite
De manhã são casas
À noite estendem os braços para o alto
fumegam vão partir
Fecham os olhos
percorrem grandes distâncias
como nuvens ou navios
As casas fluem de noite
sob a maré dos rios
São altamente mais dóceis
que as crianças
Dentro do estuque se fecham
pensativas
Tentam falar bem claro
no silêncio
com sua voz de telhas inclinadas
---
A cabeça em ambulância
Há feridas cíclicas há violentos vôos
dentro de câmaras de ar curvas
feridas que se pensam de noite
e rebentam pela manhã
ou que de noite se abrem
e pela manhã são pensadas
com todos os pensamentos
que os órgãos são hábeis
em inventar como pensos
ligaduras capacetes
sacramentos
com que se prende a cabeça
quando ela se nos afasta
quando ela nos pressente
em síncope ou desnudamento
ou num erro mais espaçoso
ou numa letra mais muda
ou na sala de tortura
na sala escura, de infância.
---
Encantatória
Custa é saber
como se invoca o ser
que assiste à escrita,
como se afina a má-
quina que a dita,
como no cárcere
nu se evita,
emparedado, a lá-
grima soltar.
Custa é saber
como se emenda a morte,
ou se a desvia,
como a tecla certa arreda
do branco suporte
a porcaria.
Luiza Neto Jorge
--
imagem: Kitasono Katue
--
28.7.08
Dreamtigers
Na infância pratiquei com fervor a adoração do tigre: não o tigre oveiro dos camalotes do Paraná e da confusão amazônica, mas o tigre rajado, asiático, real, que só homens aguerridos podem enfrentar, sobre um castelo em cima de um elefante. Eu costumava demorar-me infindavelmente diante de uma das jaulas do Zoológico; apreciava as vastas enciclopédias e os livros de história natural, pelo esplendor de seus tigres. (Ainda me lembro dessas figuras: eu, que não consigo recordar sem engano a fronte ou o sorriso de uma mulher.) A infância passou, caducaram os tigres e sua paixão, mas eles prosseguem em meus sonhos. Nessa tela submersa ou caótica continuam prevalecendo, e deste modo: adormecido, distrai-me um sonho qualquer, e de repente percebo que é um sonho. Costumo pensar então: isto é um sonho, pura diversão de minha vontade, e, já que tenho um poder ilimitado, vou produzir um tigre.
Oh, incompetência! Nunca meus sonhos sabem engendrar a almejada fera. O tigre aparece, sim, mas dissecado ou fraco, ou com impuras variações de forma, ou de um tamanho inadmissível, ou muito fugaz, ou tirante a cão ou a pássaro.
Jorge Luis Borges, "Dreamtigers", O Fazedor, 1960.
25.7.08
Picuinhas literárias
picuinhas literárias: oswald de andrade x nelson rodrigues
As ferraduras mentais do sr. Nelson Rodrigues trotaram longamente pelo "asfalto é nosso" de uma revista que desde a capa traz um tom laranja que não engana. Trata-se evidentemente de um comício laranja, onde só ele surra os seus maus sucessos e enche de invectivas as páginas mornas daquele repositório comportado de opiniões parlamentares, tímidas conversas moles sobre a Rússia e histórias do namoro de Bernard Shaw com Sarah Bernhardt.
Nunca em minha vida li um documento de insânia tão descosido, intempestivo e bravio. Não há lógica de louco que consiga acompanhar esse disco voador da besteira pelos corcovos, carambolas e girândolas em que se desagrega e pulveriza.
É melhor documentar que comentar.
O alarve que escreveu Álbum de família declara-se "espiritualista" e "antidivorcista". Raciocina ele assim: "Se a gente tem um pai só, por que não há de ter uma mulher só?"
Depois, num assomo de reacionarismo, diz que o homem de Marx é um homem inexistente. Está claro, a Rússia não existe.
Certo como está de que não atingirá a imortalidade aqui na terra, com sua coleção de torvas tolices espetaculares, opta sabiamente pela imortalidade da alma. Só assim poderá ele sobreviver.
O caso Nelson Rodrigues demonstra simplesmente os abismos de nossa incultura. Num país medianamente civilizado, a polícia literária impediria que a sua melhor obra passasse de um folhetim de jornalão de quinta classe. Mas não temos nem crítica nem críticos. E o caos trazido pela revolução mundial, que se processa sob todas as formas, permitiu que qualquer fístula aparecesse em cena vestida de noiva. A alta costura de Ziembinski -- Santa Rosa conseguiu que se consumasse a façanha teratológica.
Daí por diante, o insano ficou impossível. Veio Álbum de família e agora, num bom acesso de sã consciência, ele confessou que há mau gosto em seu teatro. Como se outra coisa houvesse! Guiado pela mão caridosa do sr. Tristão de Athayde, vamos ver o monstro contrito subir para o céu como num fim de mágica. Já crê em Deus e nos conventos e declara que "a única solução para o problema sexual é a castidade". Patetamente declama: "O homem que não compreende a grandeza de um convento não compreende nada!"
Se o sr. Nelson Rodrigues não fosse um taradão ilustre, mas de poucas letras, pensaríamos que se pudesse tratar de um convento do Aretino. Mas estamos certos de que nem dessa piada ele é capaz. Quem foi Aretino, seu Nelson?
As ferraduras mentais do sr. Nelson Rodrigues trotaram longamente pelo "asfalto é nosso" de uma revista que desde a capa traz um tom laranja que não engana. Trata-se evidentemente de um comício laranja, onde só ele surra os seus maus sucessos e enche de invectivas as páginas mornas daquele repositório comportado de opiniões parlamentares, tímidas conversas moles sobre a Rússia e histórias do namoro de Bernard Shaw com Sarah Bernhardt.
Nunca em minha vida li um documento de insânia tão descosido, intempestivo e bravio. Não há lógica de louco que consiga acompanhar esse disco voador da besteira pelos corcovos, carambolas e girândolas em que se desagrega e pulveriza.
É melhor documentar que comentar.
O alarve que escreveu Álbum de família declara-se "espiritualista" e "antidivorcista". Raciocina ele assim: "Se a gente tem um pai só, por que não há de ter uma mulher só?"
Depois, num assomo de reacionarismo, diz que o homem de Marx é um homem inexistente. Está claro, a Rússia não existe.
Certo como está de que não atingirá a imortalidade aqui na terra, com sua coleção de torvas tolices espetaculares, opta sabiamente pela imortalidade da alma. Só assim poderá ele sobreviver.
O caso Nelson Rodrigues demonstra simplesmente os abismos de nossa incultura. Num país medianamente civilizado, a polícia literária impediria que a sua melhor obra passasse de um folhetim de jornalão de quinta classe. Mas não temos nem crítica nem críticos. E o caos trazido pela revolução mundial, que se processa sob todas as formas, permitiu que qualquer fístula aparecesse em cena vestida de noiva. A alta costura de Ziembinski -- Santa Rosa conseguiu que se consumasse a façanha teratológica.
Daí por diante, o insano ficou impossível. Veio Álbum de família e agora, num bom acesso de sã consciência, ele confessou que há mau gosto em seu teatro. Como se outra coisa houvesse! Guiado pela mão caridosa do sr. Tristão de Athayde, vamos ver o monstro contrito subir para o céu como num fim de mágica. Já crê em Deus e nos conventos e declara que "a única solução para o problema sexual é a castidade". Patetamente declama: "O homem que não compreende a grandeza de um convento não compreende nada!"
Se o sr. Nelson Rodrigues não fosse um taradão ilustre, mas de poucas letras, pensaríamos que se pudesse tratar de um convento do Aretino. Mas estamos certos de que nem dessa piada ele é capaz. Quem foi Aretino, seu Nelson?
Oswald de Andrade, em "O analfabeto coroado de louros", crônica publicada no Correio da Manhã em 8 de junho de 1952.
23.7.08
Edgar Allan Poe
12.7.08
Deem-me o manto. Ponham-me a coroa.
Tenho ânsias imortais em mim. Não mais
o néctar de uvas molhará meus lábios.
Depressa, Iras! Depressa!
Sou ar e fogo, os outros elementos
dou à vida mais baixa.
Tenho eu veneno nos meus lábios?
A morte é como o gesto de um amante
que fere e é desejado.
Este mundo não vale o nosso adeus.
Cleo
6.6.08
2.6.08
Cervantes
yo, que siempre trabajo y me desvelo
por parecer que tengo de poeta
la gracia que no quiso darme el cielo
imagem: franz roh
--
17.5.08
Manuel Bandeira e a poesia sem importância
Não concordo com o Mário [de Andrade] no preconceito de novidade: posso encontrar poesia em lugar-comum sentimental. Daí gostar de coisas suas que ele acha sem importância. Posso eu achar também sem importância e no entanto gostar. Você é justamente um desses poetas que chateiam os outros com coisas sem importância. Creio que você entende bem o sentido em que emprego a expressão "coisa sem importância". Digo isso porque o Mário faz diferença entre coisa sem importância com interesse artístico e coisa sem importância mesmo. Pois pode me suceder que eu goste e me comova com a "coisa sem importância mesmo".
Eu acho a estética uma coisa arriscadíssima porque os dados são falhos, a matéria imponderável... Naturalmente tudo o que se constrói sobre essa base é molto leggero, troppo leggero... [...] para você arte é criação emotiva. Estou de acordo. Imediatamente a seguir vem: "Que é que eu procuro, lendo? Gozo da inteligência." Ora, quando eu leio um capítulo de física, procuro também gozo da inteligência e o consigo. Física não é arte. Logo, por você encontrar gozo da inteligência numa carta não pode dizer que carta é arte. Poderá sê-lo quando houver "criação emotiva". Um capítulo de física pode gerar emoção mas esta será de caráter científico. Há uma emoção específica própria da arte e ela deriva da criação ou recriação de vida. As cartas que você tanto aprecia e chama substanciosas são aquelas em que não há composição, em que a inteligência crítica intervém pouco. Em literatura quer-se mais composição, mais crítica. Você aprecia muito as minhas cartas, mas toda vez que eu apliquei o processo epistolar a poemas ou artigos desagradei você. [...] No fundo (inconscientemente) você está com o Mário e eu acho que com razão: um poema é uma composição; quando não há composição, o que existe é um fragmento lírico. Naturalmente há mais frescura no puro lirismo. Porém maior "gozo da inteligência" na composição. Basta de estética.
Manuel Bandeira em cartas datadas de 1926 a Ribeiro Couto, a quem Mário de Andrade julgava um poeta banal, de lirismo sentimental, o pior crítico do mundo. A imagem é de Cindy Sherman.
--
10.5.08
Mário Faustino
Deixo a quem quer que seja
A quem queira, a quem possa, a quem sirva, a quem goste,
A tarefa de construir um mundo novo.
Minha obrigação, o mínimo
Que inda posso fazer,
É ajudar acabar com este monturo
Onde inadvertidamente me jogou a
Senhora minha mãe.
Há múltiplas maneiras de ajudar a acabar
Com o monturo
(O monturo, aliás, não tem nada de grande,
é até fácil de arrasar.)
Há uma que particularmente me apeteceu.
Uma delas é arrebentar-lhe ostensivamente
com as regras do jogo.
A outra é desenvolver até o requinte
as referidas regras do jogo
E obedecer, também até o requinte,
as ditas regras do jogo.
Outra maneira é aumentar o monturo fazendo filhos
Educando-os e ensinando-os higienicamente
a fazer outros filhos.
Outra maneira é ir à missa todos os domingos
e contribuir para as obras da paróquia.
Outra maneira é lançar mais um jornal,
Mais um partido, mais um grupo de estudos,
Mais uma conspiração militar ou civil
Mário Faustino
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1.5.08
Triste para ela
eu posso duvidar dos meus ouvidos, não de mim. os espíritos são mudos. eu disse, ela não acreditou. esticou uma fileira de sal na porta de casa, pregou na porta do quarto uma estrela de seis raios e debaixo do travesseiro pôs uma tesoura aberta. os espíritos são reflexos da sua alma, insisti. ela virou todos os espelhos. aqui em casa espíritos não têm hora para aparecer. às vezes aparecem no meio de uma dor de cabeça. naquele jeitinho de quinta-feira. cada um ouve o que deve ouvir. triste para ela, quando o ouvir é mais importante do que o vivido. quase não sai de casa. ouve vozes por trás das vozes da TV. e todos os outros ruídos vindos do silêncio. mandou construir 28 degraus até o sótão, como no palácio de Pôncio Pilatos. nunca subi. não gosto de sótãos. não a vejo há quatro dias, embora moremos na mesma casa. talvez seja a minha voz que ela não quer ouvir. como o meu trabalho é escrever, me pediu que procurasse nos tantos livros que li -- aqui senti um tom de desprezo -- umas simpatias para apaziguar os seus nervos. não queria mais ouvir os mortos. foi bem assim. senti um arrepio na hora. mas depois de quatro dias sem vê-la, a convivência aqui está bem melhor e meu humor vem mudando. talvez ela até goste das minhas simpatias para cortar malefício de mortos indesejáveis, para evitar que os mortos falem mal de você, para agradar seu morto da guarda, para o morto não fugir com a sua melhor amiga, para calar a boca de morto de língua solta, para espantar morto de maus bofes, para curar morto destrambelhado, para morto deixar de babar, para morto cheio de xodó, para amansar morto brabo, para morto que tem medo de estar morto, para cortar olho-grande de morto, para entender conversa de morto estrangeiro, para dar um sossega-leão em morto de morte matada e para afastar morto com mania de psicografar. bem, cortei esta última. é tão bom morar de frente pro mar.
18.4.08
Edmond Jabès
Deixei uma terra que não era a minha
por outra à qual também não pertenço.
Refugiei-me num vocábulo de nanquim,
e tenho o livro como espaço;
palavra de lugar nenhum, obscura fala do
deserto.
Não me cobri durante a noite.
Nem mesmo tentei me proteger do sol.
Andei nu.
De onde eu vinha, não fazia mais sentido;
Aonde eu ia, não incomodava ninguém.
Vento, digo-lhes, vento.
E um pouco de areia no vento.
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Estou à procura
de um homem que não conheço,
que nunca foi tão eu mesmo
quanto desde que comecei a procurá-lo.
Teria ele meus olhos, minhas mãos
e todos esses pensamentos semelhantes
aos destroços deste tempo?
Estação de mil naufrágios,
o mar deixa de ser mar,
para tornar água gelada dos túmulos.
Mas, mais longe, quem sabe mais longe?
Uma menina canta a contragosto,
enquanto a noite reina sobre as árvores,
pastora em meio a seus carneiros.
Venham arrebatar do grão de sal a sede
que nenhuma bebida poderá mitigar.
Com as pedras, um mundo se devora
para ser, como eu, de parte alguma.
Edmond Jabès, "A canção do estrangeiro".
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15.4.08
book art 2
O inconsciente do texto literário. O interessante é que o desejo que o escritor teve de escrever irá se projetar no leitor, não para escrever como o autor lido, mas para escrever a partir dele mesmo. A leitura é condutora do desejo de escrever... o que desejamos é apenas o desejo que o escritor teve de escrever: desejamos o desejo que o autor teve do leitor enquanto escrevia, desejamos o ame-me que está em toda a escritura.
O inconsciente do texto literário. O interessante é que o desejo que o escritor teve de escrever irá se projetar no leitor, não para escrever como o autor lido, mas para escrever a partir dele mesmo. A leitura é condutora do desejo de escrever... o que desejamos é apenas o desejo que o escritor teve de escrever: desejamos o desejo que o autor teve do leitor enquanto escrevia, desejamos o ame-me que está em toda a escritura.
Rafael Andrés Villari
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14.4.08
12.4.08
Os dedos de vidro apontam para baixo. A luz escorre pelo vidro e forma uma poça verde. O dia inteiro os dez dedos do lustre derramam verde no mármore. As penas dos periquitos, lâminas estridentes de palmeiras, verdes também; agulhas verdes reluzindo no sol. Mas não pára o duro vidro de gotejar sobre o mármore; as poças pairam sobre a areia do deserto; por elas cambaleiam camelos; as poças se assentam no mármore, margeadas por junco, sufocadas por ervas daninhas; aqui e ali uma flor branca; o sapo pula; à noite as estrelas ficam lá, intactas. Aproxima-se a noite e a sombra varre o verde para cima da lareira; a superfície enrugada do mar. Não há navios chegando; as ondas vêm e vão sob o céu vazio. É noite e as agulhas agora derramam o azul. O verde foi embora.
Virginia Woolf, Verde.
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6.4.08
Paul Éluard
À peine défigurée
Adieu tristesse
Bonjour tristesse
Tu es inscrite dans les lignes du plafond
Tu es inscrite dans les yeux que j'aime
Tu n'es pas tout à fait la misère
Car les lèvres les plus pauvres te dénoncent
Par un sourire
Bonjour tristesse
Amour des corps aimables
Puissance de l'amour
Dont l'amabilité surgit
Comme un monstre sans corps
Tête désappointée
Tristesse beau visage
Paul Éluard, em La vie immédiate, 1932.
3.4.08
Cecília Meireles
O mosquito pernilongo
trança as pernas, faz um M,
depois, treme, treme, treme,
faz um O bastante oblongo,
faz um S.
O mosquito sobe e desce.
Com artes que ninguém vê,
faz um Q,
faz um U e faz um I.
Esse mosquito
esquisito
cruza as patas, faz um T.
E aí,
se arredonda e faz outro O,
mais bonito.
Oh!
Já não é analfabeto,
esse inseto,
pois sabe escrever seu nome.
Mas depois vai procurar
alguém que possa picar,
pois escrever cansa,
não é, criança?
E ele está com muita fome.
Cecília Meireles, "O Mosquito Escreve".
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19.3.08
18.3.08
São José
Pai putativo de Cristo.
Salomé
Maxixeira.
Virgem Maria
Miss Nazareth.
São João
O besta do Apocalipse.
César
Greta Garbo.
Maomé
Organizador do Estado religioso como
forma de exploração das massas por
uma elite guerreira.
Job
Judeu sem dinheiro.
Tomás de Aquino
Missa cantada por alma de Aristóteles.
Dante
Ator da Divina Comédia.
Shakespeare
Caixa de brinquedos na Renascença.
Cabral
O culpado de tudo.
Leonardo da Vinci
Criador do sorriso burguês.
Cervantes
Estréia literária da burguesia.
Voltaire
Idealista que realizou todos os seus
ideais. Dizia da religião: "Quando
não é loucura, é malandragem."
George Washington
Senhor de escravos que proclamou a
liberdade dos senhores de escravos.
Napoleão
Corso de carnaval com muitas vítimas.
Dom Pedro I
Imperador que riscava fora da caixa.
Monroe
Anexista que descobriu que a América
é dos americanos...do Norte.
Chopin
Amante de George Sand.
George Sand
Amante de Alfred de Musset.
Visconde de Cairu
Personagem grego do Segundo Império
brasileiro que dizia que "a verdade
é a mentira muitas vezes repetida".
Trotski
Trotskista.
Gandhi
Socialista passivo. Ensina liberdade
aos povos oprimidos pelo método Berlitz.
Freud
Diretor espiritual da burguesia.
Cassiano Ricardo
Ratazana ao molho pardo. Muito fotogênico.
Machado de Assis
Complexado criador de uma instituição branca.
Mário de Andrade
Macunaíma de Conservatório. Muito parecido
pelas costas com Oscar Wilde.
Oswald de Andrade
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13.3.08
5.3.08
Emily Dickinson
15.2.08
29.1.08
* A primeira edição de Esperando Godot, de Samuel Beckett, em 1952 saiu com 1.000 exemplares. Um ano depois o livro só havia vendido 400. Só quando a peça foi encenada na Broadway poucos anos depois foi que o livro começou a vender. A peça ficou em cartaz apenas seis semanas em Nova York pois foi acusada de propaganda comunista e o público sumiu. Foi o que bastou para o autor ficar famoso. Depois disso, o livro venderia mais de 2 milhões de exemplares.
** Walter Lowenfels, amigo de Beckett, era um homem muito preocupado com a condição humana. Um dia, conversando com Beckett, começou a deblaterar sobre o assunto. Beckett ouvia pacientemente, sentado em sua poltrona, até que Walter explodiu, exasperado: "Você fica aí sentado enquanto o mundo se acaba! O que você quer? O que você vai fazer?"
"Walter", Beckett respondeu, cruzando as pernas languidamente, "tudo o que eu quero é sentar minha bunda numa poltrona, dar os meus peidos e pensar em Dante."
28.1.08
Piada dos pinguins lésbicos
Duas lésbicas entram num bar, sentam no balcão e a primeira lésbica pede um gim-tônica. A segunda lésbica então pede um... ah, pera aí, eu disse que o bar fica no Texas? Isso é muito importante, o bar fica no Texas, ok? Então as duas lésbicas entram num bar no Texas, sentam no balcão e a segunda lésbica pede... não, a primeira lésbica pede um gim-tônica e a segunda lésbica pede uma vodca. As bebidas chegam, elas começam a beber e aí a primeira lésbica... ah, eu esqueci, na verdade são três lésbicas, tá certo? Isso mesmo, as três lésbicas entram num bar no Texas, sentam no balcão e a primeira lésbica pede vodca, não, a primeira lésbica pede gim-tônica, a segunda lésbica pede vodca e a terceira pede um sanduíche de presunto. Ih, eu disse que era um bar? Não, na verdade é uma boate, isso é crucial na história. Ok, então as três lésbicas estão na boate e a primeira pede vodca enquanto a segunda pede gim-tônica, não, pera aí, é o contrário, bom, vamos simplificar a coisa, as duas pediram um gim-tônica e uma vodca e ficam trocando, tá certo? Mas a terceira lésbica pediu um sanduíche de presunto. É isso. Então, quando os pedidos chegam, um cowboy entra na boate e... pera aí, agora eu me lembro, elas não eram lésbicas, eram pinguins. Ou talvez pinguins lésbicos? Ah, então não é no Texas, é na Tasmânia. E não é uma boate, é um armazém. E não são três pinguins, são 27. Mas 13 deles estão mortos. E eles não estão pedindo bebidas nem sanduíche, estão é metralhando todo mundo lá dentro. E o cowboy na verdade é um leprechaun. Ok, então onde é que eu estava mesmo?
4.1.08
Jacques Prévert
pôs o café
na xícara
pôs leite
na xícara com café
pôs açúcar
no café com leite
com uma colherinha
e mexeu
bebeu o café com leite
e pôs a xícara no pires
sem falar comigo
acendeu
um cigarro
fez círculos
com a fumaça
pôs as cinzas
no cinzeiro
sem falar comigo
sem olhar pra mim
levantou-se
pôs
o chapéu na cabeça
vestiu
a capa de chuva
porque chovia
e foi embora
debaixo de chuva
sem uma palavra
sem nem me olhar
e eu
pus a mão na cabeça
e chorei
jacques prévert, em "café da manhã".
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