12.4.08




Os dedos de vidro apontam para baixo. A luz escorre pelo vidro e forma uma poça verde. O dia inteiro os dez dedos do lustre derramam verde no mármore. As penas dos periquitos, lâminas estridentes de palmeiras, verdes também; agulhas verdes reluzindo no sol. Mas não pára o duro vidro de gotejar sobre o mármore; as poças pairam sobre a areia do deserto; por elas cambaleiam camelos; as poças se assentam no mármore, margeadas por junco, sufocadas por ervas daninhas; aqui e ali uma flor branca; o sapo pula; à noite as estrelas ficam lá, intactas. Aproxima-se a noite e a sombra varre o verde para cima da lareira; a superfície enrugada do mar. Não há navios chegando; as ondas vêm e vão sob o céu vazio. É noite e as agulhas agora derramam o azul. O verde foi embora.



Virginia Woolf, Verde.


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