8.4.06

Borges e o Farrapo Humano

la gota del tiempo que vacila





Dizem que Jorge Luis Borges, poucos anos antes de morrer, visitou Nova York para uma conferência e quis conhecer, apesar de cego, todos os bares por que passou Ray Milland no filme Farrapo Humano. Borges sabia de cor o nome de todos esses bares e nessa ocasião acabou conhecendo María Panero, estudante de medicina argentina, para quem declamou 5 sonetos feitos na hora para que ela os copiasse. Disse ele que vinha pensando naqueles poemas no avião que o levou de Buenos Aires a Nova York, e que ela seria a pessoa indicada para copiá-los. Os sonetos permaneceriam inéditos pois o autor não levou uma cópia e María não conseguiu enviar a ele a cópia que ficara consigo. Anos após a morte do autor, José Manuel Martell, especialista em Borges, confirmou a autoria ao ler os sonetos, argumentando no entanto que deviam ser rascunhos mentais dos anos 60 que o autor nunca quis publicar mas que usava como isca para conseguir alguma mulher por quem se interessava. Mais recentemente estes sonetos foram disponibilizados na rede pelo poeta colombiano Harold Alvarado Tenorio e aqui publico um deles:


Ya somos el olvido que seremos.
El polvo elemental que nos ignora
y que fue el rojo Adán y que es ahora
todos los hombres y los que seremos.
Ya somos en la tumba las dos fechas
del principio y el fin, la caja,
la obscena corrupción y la mortaja,
los ritos de la muerte y las endechas.
No soy el insensato que se aferra
al mágico sonido de su nombre,
pienso con esperanza en aquel hombre
que no sabrá quien fui sobre la tierra.
Bajo el indiferente azul del cielo,
esta meditación es un consuelo.



--------
Na foto, o escritor fracassado, vivido por Ray Milland no cinema, bebendo em seu bar favorito, o lendário Clarke's, na Terceira Avenida.


----