28.6.04

Era uma vez o Pedro Malasarte



Era uma vez o Pedro Malasarte e foi ter a uma serra aonde havia uma casa de ladrões, e depois ele pediu socorro que era um triste barbeiro que andava a fazer barbas, e depois eles fugiro todos dele, e só ficou um resolvido a gardar o jantar, e depois o Pedro Malasarte dixe assim: -- "Ó meu senhor, trá-la barba tão grande... eu faço-la." O ladrão afastou-se e ele fez-la barba, e depois dixe que ele botasse a língua de fora, e cortou-la e comeu o jantar; depois o ladrão começou a fugir pelo monte abaixo e dizia: "explorai por mim!" porque não podia dizer "esperai!" E os outros cada vez fugio mais. Depois eles foro fazer o jantar para outra serra. O Pedro Malasarte subiu para cima de um pinheiro na serra e levou para lá uma cancela velha, e eles stavo por baixo a fazer o jantar; assim que estava o jantar feito, eles descobriro as panelas e ele mijou por cima delas, e depois dizem eles: "Este molhinho vem do céu, há de ser gostoso"; o Pedro Malasarte fez então a sua vida sobre as panelas, e eles dixero que a marmelada que era boa; depois ele botou-lo a cancela velha pela cabeça abaixo; e eles dixeram ansim: "Ora sempre isto agora foi demais; se vem aí o céu velho, logo vem o novo, vamos a fugir", depois olharo pra cima do pinheiro e dixero: "Ai que ele é o Pedro Malasarte, vamos fugir!" Depois dizem eles: "De que modo nos havemos de vingar?" Foro para a beira de um rio e fizero um homem de visgo[de cera]. Daí a poucos dias, ele passou por lá: "Ora para que estará este home aqui? Deixa-me dar-lhe um pontapé." Deu-le um pontapé e ficou lá com o pé; deu-le oitro pontapé e ficou com oitro pé; deu-le com os braços, ficou lá também; infim ficou lá todo. Depois ficou lá três dias; estava quase morto, passou lá o ladrão que fez o homem de visgo e atirou ao rio o homem de visgo e o Pedro. Adeus, ó Vitória, acabou-se a história!


(Conto popular português, da tradição oral, narrando as aventuras de Pedro Malasarte, registrado em Tradições Populares de Portugal, de J. Leite de Vasconcelos, 1882.)