17.1.04
André de Leones
INEPTISSIMA VANITAS
Eis que passo a noite tresloucado,
alto e baixo,
pá virada,
memória rouca a oprimir no riso
minha tristeza mais autêntica.
E tive febre, como de praxe.
O senhor entende, pai, o senhor sabe,
ando num esforço crescente pelo mínimo,
um mundo de pequenas boas coisas
que não me deixaram engolir.
Hoje não há hoje:
eis-me num auto-reverse inexorável,
dois olhos na nuca e nenhum na cara,
nenhum mesmo.
Deixo meio mundo aí plantado
no aguardo de notícias.
Eu os convido a me ignorar.
Amontoando versos e noites insones. Tudo é volta ao pó.
Pode ficar quieto que te alcançam.
COMO PERDER-SE DO PRÓPRIO NOME
Um sopro.
Não sou nenhum taumaturgo aferrado
à minha sombra, desinência do possível.
Minhas unhas estão grandes,
você diz do seu nicho, degrau do meio da escada.
O gelo acabou, bebemos vinho quente;
minha embriaguez salta aos olhos,
aos pés, inconsciente. Ali, bem aqui.
Você se dobra e é de fato uma mulher.
Sou do tempo em que um gemido seu
era poesia. Um seio à mostra, à mão, já transcendia tudo.
O que busco de beber que não encontro aqui?