Arte de desamar
Meu amor é disponível,
A qualquer hora ele fecha;
A crise de convicção
É mesmo muito grande.
As pernas do meu amor
Distraem da metafísica,
O corpo do meu amor
Tem a vantagem sublime
De disfarçar o horizonte.
Eu não amo meu amor,
Para que tapeação.
Não amo ninguém no mundo,
Nem eu mesmo, nem me odeio.
Meu amor é uma rede
Onde descanso da vadiação.
Os olhos do meu amor
São bastante distraídos,
Não vêem meu desamor.
Com o porta-seios moderno
Os seios do meu amor
Aparados à la garçonne
Ocupam lugar pequeno
No espaço do seu corpo.
Se meu amor qualquer dia
Me abandonar, ai de mim!
Eu não me suicidarei...
Escreverei mais poemas.
-- Murilo Mendes, em "O Visionário", 1930-1933.