14.3.03

Margens

Ali está pendurado o mapa, todas as paredes são brancas, este é o país, esta é a costa, esta é a história, esta é a janela alta com as árvores do parque, acima, o céu, este é o DC 8 de todos os dias, esta é a gata Nina, hoje é sexta-feira, não parece verão, tudo continua igual, este é o coração que acaba de bater, ali vem outra vez o que se chama esperança, esta foi a duração de um cigarro, aproxima-se um prazo, este é Münchhausen que traz um javali preso pela corrente, isto é o mais próximo do que se fala, pronuncia-se o nome de Mila Schön, isto deve ser Milão, o copo cheio, o copo vazio, ali está sentada uma pessoa e está sentada à mesa e ergue os olhos da mesa, isso é outra coisa, esse é O continente interior, tão limpo como um Opel de Opel, ali está pendurado o gesso do kaiser Guilherme, ali são dez da noite e lá são oito da manhã, aquela mosca não voa, isso é o que importa, isso é o que alguém esquece, esse é o Mississippi, é a palavra que designa um rio, ali há um forno vazio e apagado, ali um bom rádio portátil e ali dois fragmentos de coluna, ali há algo para se sentar e lá para se sentar e deitar.
Lá fora cai um temporal, um bando de pássaros luta contra o vento até que escurece.

-- Jürgen Becker, "Margens", trad. MP.