Na Frente entregávamo-nos a todos os excessos, os previstos e os imprevistos, o uranismo comia à solta -- nem o general logrou escapar, nem fez por onde. Aquele silêncio acordava os apetites mais estranhos, era-se antropófago, onanista, hermafrodita, pederasta passivo ativo ou neutro, por nossas veias corria o esperma em vez do sangue: ceifavam-se muito mais vidas sob nossos testículos do que nas fileiras inimigas, havia um cabo Salvino que, esse, não tirava a mão do sexo. De uma feita surgiu um poema a um tenente muito loiro, era às vésperas de um combate que se tornaria histórico, o que contava era o momento presente, ninguém tinha família nem pênis definido: o general se emocionou e consentiu numa bacanal em grande estilo: era o que se poderia chamar uma ciranda copulativa, todos de mãos dadas -- de mãos propriamente não. O tenente foi um dos que morreram, como verdadeiro herói naturalmente; lutou como um bravo até o último instante, o esperma dentro das tripas.
Na volta não nos quiseram aceitar como pederastas passivos nem ativos: acabou-se a brincadeira, a coisa agora é pra valer. Quem tinha mulher muito bem, quem não tinha que se arrumasse: o Código Penal não distinguia entre vanguarda e retaguarda, nessa questão de sexo sempre fora intransigente -- pão pão, queijo queijo. Restava evidentemente o prazer solitário, contra esse não havia nenhuma sanção positiva, era como que tocar um instrumento de ouvido -- sua alma sua palma. Minha palma, minha alma: Helena em decúbito dorsal ou em decúbito ventral, não era a mesma coisa; Aristides com as suas nádegas, era perigoso, nunca se sabe ao certo o que um mudo pensa, nem qual o seu sexo; eu vagava entre as prostitutas e me sentia um estranho -- e aquele vazio por dentro pesando como um canhão.