Nome
Exércita, esse é o nome
da minha população
de corações.
Alvoroço, esse é o esqueleto
que me ergue o corpo
tiritante.
Adiante: vê
o mesmo que viu atrás
e o cansaço presente
para carregar. Não posso
jogar-me fora.
Sou um rastro que me obriga
a caminhar
e a perambular pelo teto
das tautologias
e dizer ao féretro:
ainda não,
com a garra quebrada
que maneja
a caneta-mariposa
como espada.
(A estalagem do som, 2007)
Perda
Da primeira vez que me quebraram
toda
dobrei os joelhos,
caí sem joelhos,
me dobrei toda sobre
o vazio dos braços.
Os ossos tiritavam,
a cabeça estalava
um sino:
toda um estaleiro
sem navios,
só pavios de viagem,
toda uma estalagem
bêbada de sombras
e sinas,
não sabia mais
quantas primaveras
fazem um cisne,
não sabia
beber a não ser
com as mãos em cuia,
eu era um pires
com a cara redonda
que os gatos lamberam
e fugiram,
um piano com febre
em desarticulação nervosa,
uma pátina derretida,
uma patavina
atarantada
com os caracóis da poeira
sumida no horizonte.
(Sonata para pandemônio, 2002)