13.12.17

A poesia de Elisabeth Veiga


Nome

Exércita, esse é o nome 

da minha população 

de corações.

 Alvoroço, esse é o esqueleto 

que me ergue o corpo 

tiritante.

Adiante: vê 

o mesmo que viu atrás 

e o cansaço presente 

para carregar. Não posso 

jogar-me fora.  

Sou um rastro que me obriga 

a caminhar 

e a perambular pelo teto

das tautologias 

e dizer ao féretro: 

ainda não, 

com a garra quebrada 

que maneja

a caneta-mariposa 

como espada. 

(A estalagem do som, 2007)


Perda

Da primeira vez que me quebraram
toda
dobrei os joelhos,
caí sem joelhos,
me dobrei toda sobre
o vazio dos braços.
Os ossos tiritavam,
a cabeça estalava
um sino:
toda um estaleiro
sem navios,
só pavios de viagem,
toda uma estalagem
bêbada de sombras
e sinas,
não sabia mais
quantas primaveras
fazem um cisne,
não sabia
beber a não ser
com as mãos em cuia,
eu era um pires
com a cara redonda
que os gatos lamberam
e fugiram,
um piano com febre
em desarticulação nervosa,
uma pátina derretida,
uma patavina
atarantada
com os caracóis da poeira
sumida no horizonte.

(Sonata para pandemônio, 2002)