28.7.17

Raymond Carver


Para Tess

Lá fora, no Estreito, a água está espumando,
como se diz por aqui. Está muito agitada, e me sinto feliz
por não estar lá fora. Feliz porque pesquei o dia inteiro
em Morse Creek, lançando uma isca falsa
para frente e para trás. Não peguei nada. Nenhuma
mordida, sequer. Mas tudo bem. Tudo ótimo!
Eu carregava o canivete do seu pai, e por algum tempo
fui seguido por um cão que o dono chamava de Dixie.
Por momentos me senti tão feliz que precisei parar
de pescar. Uma hora deitei na margem de olhos fechados,
escutando o barulho que a água fazia,
e o vento nas copas das árvores. O mesmo vento
que sopra no Estreito, mas também um vento diferente.
Por um momento, até imaginei que eu tinha morrido – 
e não me importei, ao menos por alguns minutos,
até que realmente mergulhei no: Morto.
Enquanto deitava ali de olhos fechados,
logo depois de ter imaginado como seria
se de fato nunca me levantasse outra vez, pensei em você.
Então abri os olhos e me ergui depressa,
e voltei a ficar feliz.
Eu sou grato a você, sabe? Eu queria te dizer.

(trad. Cide Piquet)