7.5.17

Silvia Jänkel



bem adentro punhaladas 
de veludo 
as beiradas 
suam 
a ira do mar que não é 

Parece morta ou dormida (quase sempre). Anos de latência
empalideceram seus contornos. Uma massa amorfa que cresce
(para dentro), como um abcesso ou a loucura, que não conhece
limites (por isso os manicômios têm os muros tão altos).
Dar-lhe forma ao informe, sustentar (ou encerrar), proibir a fuga.
Mas as fissuras (deus meu), as fissuras, produto da umidade que
invade e abranda (não pertence a nenhuma religião mas acredita na
natureza).
Está instalada no centro e se burla da polícia. Aparece de repente,
vestida de pecado. Monta seu caótico espetáculo e permanece, como
uma marca, negra (ou vermelha), no almanaque.
se agitam as espinhas
o silêncio
do rio que estrangula
Desperto quase sempre acreditando que existe a saída (o resto é delírio). 
Evito os trens e os elevadores porque no instante em que
fecham suas portas já não tem forma de escapar. 
Prefiro as poltronas
laterais, bem ao lado do corredor, 

e não sonho entrar (pelo centro) vestida de branco.

Durmo cada noite e sei
que uma vez que está dentro
nunca mais volta a sair.