17.1.17
Halina Poświatowska
[Não tenho a antiga ternura]
não tenho a antiga ternura pelo meu corpo
mas o tolero como um animal de carga
que é útil apesar de exigir muitos cuidados
e traz dor e alegria e dor e alegria
às vezes fica imóvel de tanto prazer
e às vezes serve de abrigo ao sono
conheço os seus corredores sinuosos
sei por qual deles chega o cansaço
e quais tendões o riso estica
e lembro do gosto único de lágrimas
tão parecido com o de sangue
os meus pensamentos — um bando de pássaros assustados
eles alimentam-se do campo do meu corpo
não tenho para ele a antiga ternura
mas sinto mais forte do que antes
que não alcanço nada além das minhas mãos esticadas
e nada acima daquilo ao qual me levantam as pontas dos meus pés
(trad. Magdalena Nowinska)