I
No chiqueiro, os porcos gordos são os primeiros a serem procurados pelos comedores de porcos. Os comedores de porcos gordos procuram uma receita alheia pronta na gaveta e na hora de servir só acrescentam a folhinha de manjericão. Há quem prefira ervilhas. Ou esmagar bem a carne. Uma ideia de tomilho. Uma sugestão de pecorino ralado. O editor põe a mesa. Escolhe seus dez porcos gordos para a revista dos comedores de porcos. Os porcos magros têm fome e sede, mas comedores de porcos não se interessam por energia bruta. Querem energia metabolizável. Ver no espelho um bando de cisnes. O editor reserva os porcos magros para o peso ideal de abate. Porcos magros disputam os farelos de mamona com os verbos no futuro. Nada, com efeito, era mais real. Alguns amigos teimam comigo o contrário. Abrem o piano até os joelhos e apontam para o decassílabo heroico. Eu continuo pensando nos porcos gordos. Na revista dos comedores de porcos. Na página 21 que aproxima os corações solitários. E também na imortalidade da alma porca. Faço as contas do sangue derramado. Sem sair da minha posição. Sem me mexer na cadeira. O que tem o dom da cura. A demência pela modéstia parafraseada. Eu era uma menina quando desisti da guerra. E se hoje penso nos porcos gordos, uma palavra sua pode mudar isso. Não a repetida. Não a que está agora em foco. Mas aquela possivelmente um nada. Um bicho-da-seda fugindo para o sul enquanto fecho a revista e conserto a goteira no teto.
II
Vinte anos no mesmo assunto e não conseguia vendê-lo.
O pano de prato do coveiro.
Fez até roteiro. O corpo central do edifício.
Após alguns braços de mulher, desistiu.
Hoje estala os dedos e Vamos tomar um café às cinco e meia?
Eu hesito porque ele escarra na rua e seca os dedos estalados no casaco.
Quer comprar meus porcos gordos.
Coloco o pão à direita e a faca à esquerda.
Tiro da boca o que já mastiguei e entrego a ele. Parece limpo.
Ele bebe à minha saúde, à minha lhaneza, à minha amizade.
Mais tarde penso muito sobre este encontro e separo um tempo para os doces.
Os meus porcos a essa altura viraram língua escrita.
Ferdinando é um ladrão.
Da próxima vez escondo melhor meus animais.
II
Vinte anos no mesmo assunto e não conseguia vendê-lo.
O pano de prato do coveiro.
Fez até roteiro. O corpo central do edifício.
Após alguns braços de mulher, desistiu.
Hoje estala os dedos e Vamos tomar um café às cinco e meia?
Eu hesito porque ele escarra na rua e seca os dedos estalados no casaco.
Quer comprar meus porcos gordos.
Coloco o pão à direita e a faca à esquerda.
Tiro da boca o que já mastiguei e entrego a ele. Parece limpo.
Ele bebe à minha saúde, à minha lhaneza, à minha amizade.
Mais tarde penso muito sobre este encontro e separo um tempo para os doces.
Os meus porcos a essa altura viraram língua escrita.
Ferdinando é um ladrão.
Da próxima vez escondo melhor meus animais.