29.9.11
Wilfred Owen
Dulce et decorum est
Recurvados, como velhos mendigos sob sacos,
Cambaios, tossindo feito bruxas enrugadas, praguejamos no lodaçal,
Até que, à luz melancólica dos sinalizadores, viramos as costas
E começamos a longa caminhada rumo ao repouso distante.
Homens marchavam dormindo. Muitos haviam perdido as botas
Mas, sangrando, prosseguiam. Todos mancando; todos cegos;
Bêbados de cansaço; surdos mesmo ao som
Dos obuses sonolentos que caíam atrás de nós.
Gás! Gás! Rápido, rapazes! – O êxtase de procurar e
De ajeitar, bem a tempo, as máscaras malfeitas;
Mas alguém ainda gritava e tropeçava
Debatendo-se como um homem em chamas ou coberto de cal viva...
Opaco, através das lentes embaçadas e da espessa luz verde,
Como sob um verde mar, eu o vi se afogar.
Em todos os meus sonhos, diante de meus olhos inúteis,
Ele se lança sobre mim, sufocando, engasgando, afogando.
Se em algum sonho sufocante você também pudesse passar
Atrás do vagão onde o atiramos,
E ver os olhos brancos contorcendo-se em seu rosto,
Naquele rosto sem vida, qual um demônio cansado de pecar;
Se você pudesse ouvir, a cada solavanco, o sangue
Brotar gargarejando dos pulmões cheios de espuma,
Obsceno como o câncer, amargo como o vômito
De feridas vis e incuráveis em línguas inocentes,
Meu amigo, você não diria com tanto brio
Às crianças ansiosas por uma glória desesperada
A velha Mentira: Dulce et decorum est
Pro patria mori.
Wilfred Owen, 1917.-