4.11.10



The unending gift


Um pintor prometeu-nos um quadro.
Agora, em New England, sei que morreu. Senti, como outras
vezes, a tristeza de compreender que somos como um
sonho. Pensei no homem e no quadro perdidos.
(Só os deuses podem prometer, porque são imortais.)
Pensei em um lugar prefixado que a tela não ocupará.
Pensei depois: se estivesse aí, seria com o tempo uma coisa
mais, uma coisa, uma das vaidades ou hábitos da casa;
agora é ilimitada, incessante, capaz de qualquer forma
e qualquer cor e a ninguém vinculada.
Existe de algum modo. Viverá e crescerá como uma música e
estará comigo até o fim. Obrigado, Jorge Larco.
(Também os homens podem prometer, porque na promessa há
algo imortal.)


Jorge Luis Borges, em Elogio da sombra, 1969.
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