Credo in un Dio crudel che m'ha creato
Simile a sè, e che nell'ira io nomo.
Dalla viltà d'un germe o d'un atomo
Vile son nato.
Sono scellerato
Perchè son uomo
E sento il fango originario in me.
Si! quest'è la mia fé!
Credo con fermo cuor, siccome crede
La vedovella al tempio,
Che il mal ch'io penso e che da me procede
Per mio destino adempio.
Credo che il giusto è un istrion beffardo
E nel viso e nel cuor,
Che tutto in lui è bugiardo:
Lagrima, bacio, sguardo,
Sacrifício ed onor.
E credo l'uom gioco d'iniqua sorte
Dal germe della culla
Al verme dell'avel.
Vien dopo tanta irrision la Morte.
E poi? La morte è il Nulla.
È vecchia fola il ciel!
Creio em um Deus cruel que me criou
À sua semelhança, e que na ira eu invoco.
Da vileza de um germe ou de um átomo
Vil nasci.
Sou celerado
Porque sou homem
E sinto a lama originária em mim.
Sim! esta é a minha fé!
Creio com firme coração, como crê
A viuvinha no templo,
Que o mal que penso e que de mim procede
Eu o realizo pelo meu destino.
Creio que o justo é um histrião burlador
No rosto e no coração,
Que tudo nele é mentira:
Lágrima, beijo, olhar,
Sacrifício e honra.
E creio que o homem é um jogo da sorte iníqua
Do germe do berço
Ao verme do túmulo.
Vem, depois de tanta irrisão, a Morte.
E depois? A morte é o Nada.
O céu, uma velha fábula!
Arrigo Boito, compositor, poeta e libretista, responsável pela adaptação do Otelo shakespeariano à ópera homônima de Verdi, de 1887. O monólogo aqui publicado, Credo de Iago, é um acréscimo do poeta.
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