29.10.08

Casas de pó




Alguém já disse que os artistas precisam criar na mesma proporção da capacidade que a sociedade tem de destruir. É no que parece acreditar a artista colombiana radicada em Miami, Maria Adelaida Lopez, com suas "Casas de Pó". Enquanto a civilização limpa o seu pó e dá as costas, ela confecciona sua obra com casas de boneca e o pó dos aspiradores, formando paisagens da vida doméstica, da vida de dentro e de fora.









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24.10.08


Wired Solitude




maira, solidão interativa, 2008
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22.10.08




Inscription for the ceiling of a bedroom


Daily dawns another day;
I must up, to make my way.
Though I dress and drink and eat,
Move my fingers and my feet,
Learn a little, here and there,
Weep and laugh and sweat and swear,
Hear a song, or watch a stage,
Leave some words upon a page,
Claim a foe, or hail a friend --
Bed awaits me at the end.

Though I go in pride and strength,
I'll come back to bed at length.
Though I walk in blinded woe,
Back to bed I'm bound to go.
High my heart, or bowed my head,
All my days but lead to bed.
Up, and out, and on; and then
Ever back to bed again,
Summer, Winter, Spring, and Fall --
I'm a fool to rise at all!

Dorothy Parker
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20.10.08

Procura-se um poema erótico que não faça sexo



Procura-se um poema erótico que não faça sexo, que não use as palavras contornos, curvas, fendas, gretas, canais, seios, gemidos, ventre, flancos, orgasmos, espasmos, espermas, gritos, gozo, bocas, dentes, desejo, língua, lábios, lóbulos, nádegas, coxas, corpos, beijos, abraços, mãos, dedos, mamilos, orelhas, cabelos, saliva, pernas, quadris, rego, abertura, carne, cama, lençóis, roupas, travesseiro, sucos, sumos, êxtase, febre, calor, suor, umidade, líquidos, pele, peso, teso, penugem, órgão, tato, encaixe, coração, paixão, prazer, ponto g, sedas, poros, incêndio, libido, dentro, fora, duro, mole, seco, molhado, hálito, adagas, facas, velas, varas, baloiço das ancas, pênis, vagina, ânus, clitóris e seus semelhantes, palavras estas que já começam a brochar e entediar os leitores. Cartas ao editor.

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15.10.08




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13.10.08

Mário de Sá-Carneiro




Meu querido Amigo, não sei por quê eu já não venho ao Café Riche. Talvez porque na mesa do fundo, ali no canto - onde um "monsieur decoré" se embebe do TEMPS - receie encontrar o Sá-Carneiro, o Mário, de 1913, que era mais feliz, pois acreditava ainda na sua desolação... Enquanto hoje... Descia-a toda; no fundo é uma coisa peganhenta e açucarada, digna de lástima e só para os rapazes do liceu a receberem à tourada. Creia o meu Amigo que é absolutamente assim - sem literatura má, sem paulismo, afianço-lhe. / A verdade nua e crua:

- Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos berros e aos pinotes -
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas.

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza:
A um morto nada se recusa,
E eu quero por força ir de burro...


Mas então para fixar o instante desta minha vinda ao Café Riche, onde agora já não entro com medo de encontrar o Mário - hoje felizmente ele não estava, estava só o monsieur do TEMPS - envio-lhe esta carta inútil e riscada que você perdoará, hem?



(Mário de Sá-Carneiro, em carta a Fernando Pessoa de 16 de fevereiro de 1916, dois meses antes de seu suicídio. O poema levou o título de "Fim".)


11.10.08

Jacques Lacan




O amor é dar o que não se tem
a alguém que não o quer.


-  Conferência de Louvain, 13 de outubro de 1972.

2.10.08