9.4.07

Paul Auster





Um sujeito entra num bar em Chicago às cinco da tarde e pede três uísques. Não um depois do outro, e sim três de uma só vez. O barman fica meio intrigado com o pedido inusitado, mas não abre a boca e serve o que o homem pediu -- três uísques alinhados no balcão, um do lado do outro. O sujeito toma todos eles, um por um, paga a conta e vai embora. No dia seguinte, lá está ele de novo, às cinco da tarde, e pede a mesma coisa. Três uísques de uma vez. Faz isso todo dia durante duas semanas. Por fim, a curiosidade vence o barman: não quero me meter, diz ele, mas o senhor vem aqui todo dia, há duas semanas, e sempre pede três uísques ao mesmo tempo, eu só queria saber por quê. Quase todo mundo pede um de cada vez. Ah, diz o sujeito, a resposta é muito simples. Eu tenho dois irmãos. Um mora em Nova York, o outro em San Francisco, e nós três somos muito chegados. Como forma de honrar nossa amizade, sempre vamos a um bar às cinco da tarde, pedimos três uísques e em silêncio brindamos à nossa saúde, fingindo que estamos todos juntos no mesmo lugar. O barman meneia a cabeça, entendendo finalmente o motivo do estranho ritual, e esquece o assunto. O sujeito continua a aparecer no bar por mais quatro meses. Sempre às cinco da tarde bebe os três uísques. Até que um dia aparece mas dessa vez pede só dois uísques. O barman fica preocupado e, tomando coragem, resolve dizer: não quero me meter, mas todo dia, nestes últimos quatro meses e meio, o senhor veio aqui e pediu três uísques. Hoje pediu dois. Sei que não é da minha conta, mas espero que não tenha acontecido nada com sua família. Não aconteceu nada, não, diz o sujeito, muito animado e alegre como sempre. Então o que foi?, pergunta o barman. A resposta é muito simples, diz o homem. É que eu parei de beber.


-- do livro Viagens no scriptorium, de Paul Auster.