14.8.05

Cruz e Sousa



Elizirna! Elizirna!

Como faz a gente pensar nos mundos de além, emigrar, boemizar, para a gare azul dos sonhos estrelados de auroras, o teu perfil correto, linha direita de imperatriz da Rússia.

Como essa cintura, mais delicada e galante do que a pétala branca, de leite, da deliciosa magnólia, quando a gente te vê elegantemente espartilhada, jubilosa, parecendo uma alegria do céu, tantaliza e arrebata os bravios leões do desejo.

Elizirna! Elizirna!

E a tua epiderme, macia, jambosa, com a penugem veludínea do pêssego, molar com a suavidade doce do creme, e o frescor perfumoso da malva-maçã; de um róseo queimado, a tua epiderme, flor azul dos luares brancos, impressiona o nervosismo, dá irritabilidades espasmódicas.

E a música do teu laringe, o gargantear cantarolante do cristal, semelhante ao tinido miúdo, claro, sonoro de uma campainha elétrica, vibrada num palácio de vidro, como prostra a alma num êxtase, num êxtase...

Elizirna! Elizirna!

E a curva do teu colo, a abençoada curva do teu colo!

Quantos ideais meus, quantas cismas encharcadas no licor saborosíssimo da ventura que palpita, que ferve, que escalda e esbraseia, não foram flutuar, boiar no maciosíssimo topázio rico do teu colo moreno, como um batalhão triunfal de pássaros vermelhos, nos fluidos da enorme concha de alabastro do firmamento.

Elizirna! Elizirna!...

Pomba doce dos países de ouro.

E a tua boca, cor de pitanga madura, levemente roxa, esse escrínio rútilo dos meus beijos, esse fruto ruborizado, polposo, sempre aromático, infiltrado do sândalo agradável da mocidade, do gosto saudável da beleza pura, castíssima, frescurizada, vegetabilizante, como é consoladora e boa.

Elizirna! Elizirna!

E a tempestade negra dos teus cabelos, cortada pelos fuzis dos meus olhares, por onde o vento absurdo, desabrido, das minhas desgraças, faz ziguezagues e esfuziotes continuados; o mar profundo e vão dessas tranças, por onde o meu destino naufraga desoladoramente, como eu acho terrivelmente deslumbrante, esmagadoramente belo...

Elizirna! Elizirna!...

E os teus olhos, filha, abundantes de cousas celestiais, fartos das bênçãos do gozo, inundados dos equatorianos rosicleres primaverinos, cheios dos pizzicatos, dos acceleratos das paixões, como iluminam e cantam...

Elizirna! Elizirna!...

Parecem dois sóis esplendorosíssimos, os teus olhos, cada qual com um sabiá dentro, abrindo, cristalinizadoramente, em trilhos gorjeadores, a bravuresca garganta lírica...




Cruz e Sousa