Alberto Blanco, México
O fim das etiquetas
A mosca se levanta da mesa
e domina os quartos até o teto,
atravessa pontualmente o corredor
que comunica o mar com o espelho.
Penetrante na luz é o seu zumbido
Uma bolha a mais dentro da água...
navegando descobre entre os botes
a borda iluminada da toalha.
O fundo é sujo, o que ela vê, claro:
esta vida que flutua vacilante
com ar de papel, branco de luz,
já não lembra nada das palavras.
(trad. Maira Parula)
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Poema visto no ventilador de um hotel
e domina os quartos até o teto,
atravessa pontualmente o corredor
que comunica o mar com o espelho.
Penetrante na luz é o seu zumbido
Uma bolha a mais dentro da água...
navegando descobre entre os botes
a borda iluminada da toalha.
O fundo é sujo, o que ela vê, claro:
esta vida que flutua vacilante
com ar de papel, branco de luz,
já não lembra nada das palavras.
(trad. Maira Parula)
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Poema visto no ventilador de um hotel
Faz um calor dos diabos.
Ligo o ventilador
e começam a girar as pás...
Logo se espalha um suave vento
e as cortinas começam a dançar.
O centro do ventilador
é um espelho convexo,
um olho de peixe,
um capacete de ouro.
Ali vibram os reflexos
com o zumbido da máquina,
mas não saem do seu lugar.
Aumento a velocidade e as pás giram
até virar quase invisíveis
-- sobre uma gaze alvacenta --
mas os reflexos no centro
continuam sendo os mesmos.
Assim tem que ser com tudo -- digo para mim --
as superfícies se movem a grande velocidade
mas as formas que refletem não.
Passam os indivíduos de uma espécie,
mas a espécie continua a mesma.
Passam os homens de um povo,
mas o povo permanece.
Passam todos os poetas,
mas fica a poesia.
Passam nossos pensamentos,
mas alguma coisa, ou alguém,
está observando.
Segue observando.
(trad. Rodolfo Mata)
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Ligo o ventilador
e começam a girar as pás...
Logo se espalha um suave vento
e as cortinas começam a dançar.
O centro do ventilador
é um espelho convexo,
um olho de peixe,
um capacete de ouro.
Ali vibram os reflexos
com o zumbido da máquina,
mas não saem do seu lugar.
Aumento a velocidade e as pás giram
até virar quase invisíveis
-- sobre uma gaze alvacenta --
mas os reflexos no centro
continuam sendo os mesmos.
Assim tem que ser com tudo -- digo para mim --
as superfícies se movem a grande velocidade
mas as formas que refletem não.
Passam os indivíduos de uma espécie,
mas a espécie continua a mesma.
Passam os homens de um povo,
mas o povo permanece.
Passam todos os poetas,
mas fica a poesia.
Passam nossos pensamentos,
mas alguma coisa, ou alguém,
está observando.
Segue observando.
(trad. Rodolfo Mata)
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