11.11.04

Rimbaud & Verlaine: Do roteiro de "Total Eclipse", 1995




Verlaine: O que você acha de minha esposa?
Rimbaud: Não sei. O que você acha dela?
Verlaine: Ela ainda é muito criança.
Rimbaud: Eu também.

(pausa)
Verlaine: (para o garçom) Dois absintos...
Rimbaud: Esse seu último livro...
Verlaine: Sim...
Rimbaud: ...não é lá essas coisas.
Verlaine: Não está falando sério.
Rimbaud: Puro lixo pré-matrimonial.
Verlaine: Não. São poemas de amor. Muita gente gostou.
Rimbaud: Não passam de uma mentira.
Verlaine: Não são uma mentira, eu amo minha mulher.
Rimbaud: Amor...
Verlaine: Sim.
Rimbaud: Isso não existe.
Verlaine: O que quer dizer?
Rimbaud: O que une as famílias e os casais, isto não é amor. É burrice, egoísmo, ou medo. O amor não existe.
Verlaine: Você está enganado.
Rimbaud: O interesse próprio existe, a união para proveitos pessoais existe, a complacência existe. Não o amor. O amor tem de ser reinventado.
Verlaine: Eu amo o corpo dela.
Rimbaud: Há outros corpos.
Verlaine: Não. Eu amo o corpo de Matilde.
Rimbaud: E a alma não?
Verlaine: Acho mais importante amar o corpo do que amar a alma, afinal a alma pode ser imortal. Terei muito tempo para a alma, enquanto a carne...
Rimbaud: (bufando)
Verlaine: O que foi? É o meu amor pela carne que me mantém fiel.
Rimbaud: Fiel. O que quer dizer com isso?
Verlaine: Sou fiel a todos a quem amei. Se amei um dia, amarei para sempre...e quando estou sozinho à noite ou pela manhã, posso fechar meus olhos e celebrar a todos.
Rimbaud: Isto não é fidelidade. É nostalgia. Não espere fidelidade de mim.
Verlaine: Aaah... por que está tão azedo comigo?
Rimbaud: Porque você precisa disso.
Verlaine: Já não basta saber que amo você mais do que ninguém? E que sempre amarei?
Rimbaud: Ah, cale essa boca, seu bêbado choramingas.
Verlaine: Diga que me ama.
Rimbaud: Ah, pelo amor de Deus.
Verlaine: Por favor, é importante para mim, diga...
Rimbaud: Você sabe que gosto de você.
Verlaine: Fiz umas compras hoje de manhã. Comprei um revólver.
Rimbaud: E pra quê?
Verlaine: Para você, para mim, para todos.
Rimbaud: Espero que tenha comprado munição suficiente pra todo mundo.



(trad. Maira Parula)