Fim do mundo
Eis em que deram as coisas neste mundo
As vacas sentadas nos postes telegráficos jogando xadrez
A cacatua debaixo das saias da dançarina espanhola
Canta tão triste quanto uma corneta de quartel e os canhões
[lamentam o dia inteiro
Isso é a paisagem de lavanda de que falava Herr Mayer
quando perdeu o olho
Somente o corpo de bombeiros pode expulsar o pesadelo da
[sala de
visitas mas todas as mangueiras estão quebradas
Ah sim Sonya todos consideram a boneca de celulóide uma
[criança-trocada
e gritam: God save the king
O Clube Monista em peso se reuniu no barco a vapor
[Meyerbeer
Mas só o piloto tem alguma idéia do que seja um dó maior
Arranco o atlas anatômico de meu tornozelo
começa um estudo sério
Você viu os peixes que têm estado de pé defronte da
ópera de gala
estes últimos dois dias e duas noites...?
Ah ah vós grandes diabos -- ah ah vós apicultores e
[comandantes
Como um bau au au com um bô ô ô quem hoje em dia não
[sabe
o que nosso Pai Homero escreveu
Guardo a guerra e a paz em minha toga mas tomarei um
[milk-shake de cereja
Hoje ninguém sabe se foi amanhã
Batem o compasso com uma tampa de esquife
Se ao menos alguém tivesse a coragem de arrancar as penas
[do rabo
do bonde é uma grande época
Os professores de zoologia reúnem-se nos prados
o grande mágico arruma os tomates na testa
Mais uma vez oh tu castelo mal-assombrado com tuas terras
O cabrito montês assobia o garanhão dá um pulo
(E é assim que é o mundo eis tudo o que vem depois de nós)
Richard Huelsenbeck, no que é considerado o primeiro poema dadaísta, 1916.