Era uma vez uma carta que não tinha nada de mais.
Era apenas uma folha, pequena e branca,
mas não era assim que Ivaníssia a via.
Para ela, uma folha em branco era
uma janela para um outro mundo,
nela poderia escrever o que quisesse
e ser então pássaro ou baleia, seta ou perífrase,
incandescência, brilho, amizade, paixão ou mesmo amor.
No esforço que ali se coadunava
com a mais erudita imaginação,
Ivaníssia culminou num tremendo gemido
que se viu transcender com um "sploft" suave
e um friozinho molhado na base da espinha.
Atravessou uma última vez a carta em branco
com o seu doce e agora sereno olhar,
amarrotou-a um pouco, puxou o autoclismo e limpou o rabo.
-- Filipe Goulão, em Luzes Azuis