3.12.02

Kurt Vonnegut

Sempre tive dificuldade para terminar os contos de uma forma que satisfizesse o público em geral. Na vida real, as pessoas não mudam, não aprendem nada com seus erros e não pedem desculpas. Num conto, elas precisam fazer pelo menos duas dessas três coisas, ou será melhor jogá-lo fora na lata de lixo sem tampa presa com corrente e cadeado a um hidrante em frente à Academia Americana de Letras e Artes.
Tudo bem, isso eu podia resolver. Mas depois de fazer um personagem mudar, aprender alguma coisa e/ou pedir desculpas, isso deixava o resto do elenco parado chupando o dedo. Isso não é jeito de dizer ao leitor que o espetáculo terminou.
Quando eu era jovem e inexperiente, imaturo nas minhas opiniões e, para começo de conversa, sem nunca ter pedido para nascer, pedi conselho a meu agente literário daquela época sobre como terminar os contos sem matar todos os personagens. Ele havia sido editor de ficção de uma revista importante, além de consultor de roteiros para um estúdio de Hollywood. "Nada mais simples, meu rapaz", disse ele. "O herói monta no seu cavalo e sai cavalgando em direção ao pôr-do-sol."
Muitos anos depois, ele se mataria deliberadamente com uma espingarda calibre 12.

-- Em "Timequake".