28.11.02

Groucho Marx



Para aqueles de meus leitores que nunca viram um convidado, posso descrevê-los facilmente. São altos ou baixos, ligeiramente maltrapilhos e vêm em todas as cores. Um convidado pode ser identificado como aquele que vem a nossa casa a nosso convite. Aquele que vem sem convite ou é uma aranha viúva-negra ou um parente.

Há todo tipo de convidados. Há o convidado para jantar, a visita de fim de semana, o convidado mensal e, se você não tomar cuidado, o convidado permanente. Mas o mais inocente, o mais amigável e relativamente inofensivo de todos é o convidado para jantar. Um jantar é geralmente composto por um grupo de seis, oito ou dez pessoas. O tamanho do jantar, é claro, depende muito do tamanho da sala de jantar. E, em muitos casos, do tamanho da cozinheira. (...) Em todo grupo de seis ou mais pessoas que vêm para o jantar, pelo menos quatro delas não só detestam você, como também à comida. Não gostar da comida é privilégio de todo convidado. Eu quase sempre não gosto da comida da casa dos outros, e quando isso acontece, discretamente encho minha boca de pão e torço para que a sobremesa não seja pudim de pão. (...) Também há os casais que nunca vêm sozinhos. Sempre trazem um convidado extra, com muita elegância e esperteza. Mesmo assim, você encaixa uma cadeira extra, tira o seu belo serviço para seis e rearruma a mesa com uma miscelânea de louças de cerâmica que há anos vinha roubando de alguns dos melhores hotéis do país.

Para começar a noite com uma bomba, tem o espertinho que sempre chega uma hora antes que os outros. Se você disser: "O jantar é às sete", pode ter certeza de que ele estará lá às seis. Se disser "nove", ele chegará às oito. Não se sabe como ele entra na casa -- ou é um ladrão ou um duende --, ninguém jamais o escuta entrar, nenhuma porta bate, nenhuma campainha toca. (...) E existe aquele casal que sempre sai à meia-noite, mas que só chega até a porta da frente. É praticamente impossível tirá-los da casa -- algo como um jogador de futebol que chega na área e não consegue marcar o gol. Esse tipo de gente que reluta em sair de perto da porta tem um rival à altura naquele outro que se levanta de vinte em vinte minutos, como se fosse ir embora. Cada vez que ele se levanta, você pula cheio de esperança e, como um cão de caça, aponta na direção do armário de casacos. Mas seu pulo foi em vão. Essa caixa de surpresas levará horas para sair!

Os métodos mais simples geralmente são os mais eficazes para se livrar dos convidados de fim de semana. Alguns comentários bem colocados durante o jantar em geral resolverão o problema. Por exemplo, quando o assado for servido, você pode se queixar: "A carne está ficando tão cara! Não é fácil manter uma família hoje em dia, sem falar nos convidados." Quando chegar à última parte desse discurso, encare o convidado. Se ele tiver algum orgulho (e muito poucos o têm), irá para o quarto e imediatamente começará a fazer as malas. Se, no entanto, ele for o típico habitué de fim de semana, tais sutilezas são uma perda de tempo, e métodos mais esquisitos devem ser usados, mesmo e até e inclusive a força. (...) Cortar o suprimento de água e os fios telefônicos é geralmente muito eficaz. Botar fogo em sua correspondência (especialmente se for as do tipo que recebo) às vezes ajuda. Muita gente é alérgica a farelos de bolacha na cama, e essas pessoas geralmente ficam prontas para partir se acordarem de manhã transformadas em costeletas de vitela empanada. (Um hóspede, contudo, ficou tão encantado com esse tratamento, que passou a comer as bolachas toda noite antes de dormir e, depois de uma semana, desfez todas as suas malas e começou a pedir queijo aos berros pelo buraco da fechadura.)

-- Em "Como se Livrar dos Convidados".