Nos anos 1930, o aluguel de um apartamento mobiliado na Cinelândia (centro do Rio) custava 400 mil réis. Na época, só uma elite emergente podia morar bem nessas vizinhanças. Um médico bem-sucedido podia ganhar 1:500.000 ( 1 conto e 500 mil réis), um operário têxtil ganhava 240 mil réis por mês e uma empregada doméstica, 120 mil. O quilo de arroz custava no mínimo 500 réis, o açúcar, 700; o bacalhau, 2.100; café, 2.400; carne de primeira e frango, 2.000; feijão preto, 500; leite, 800 o litro, e ovos, 2.200 a dúzia. Já um par de sapatos de pelica, modelo Luís XV, para moças de fino trato chegava a custar 36 mil réis. Nessa época o rádio e a propaganda incentivavam os "novos" hábitos: "Não há mais belo destino para um cigarro do que o de luzir, como um astro, nos lábios de uma mulher bonita." Nas ruas trafegavam os ônibus de dois andares, os "chope-duplo", os táxis passaram a calcular a corrida por taxímetros e ganhou popularidade o hábito de se tomar café em pé, no balcão. No comércio estabelece-se o "horário comercial" e as vendas são incrementadas com a introdução do crediário. Um grande número de mendigos "transfere-se" para São Paulo, alegando que lá serão tratados com mais civilidade, pois um decreto recém-criado os protegia da polícia. Dizia-se que alguns chegaram a fazer fortunas só de pedir esmolas. Nas farmácias podia-se comprar 5 gramas de cocaína malhada a 2.000 réis, e uma ampola de heroína custava 1.500. Na Lapa bebia-se cerveja por 1.100 a garrafa. Com seus casarões antigos de paredes enegrecidas, seus bares, restaurantes, cabarés e bordéis, a Lapa era ponto de encontro de intelectuais e artistas. Freqüentavam a Lapa Plínio Salgado, San Tiago Dantas, Noel Rosa, Assis Valente, Heitor dos Prazeres, Cartola, Nelson Cavaquinho, Francisco Alves, Araci de Almeida, Jorge Amado, Cândido Portinari, Villa-Lobos, Sérgio Buarque de Holanda, Rubem Braga, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Madame Satã, um dos mitos do bas-fond, e muitos outros. No final dos anos 1930 a polícia do Estado Novo fechou todos os bordéis da Lapa, decidida a acabar violentamente com a prostituição na Capital Federal. Nos anos 1940, o bairro entra em franca decadência devido à Segunda Guerra Mundial. A Lapa é invadida por marinheiros americanos vomitando dólares e pelos "falsos malandros", deixando de ser a partir daí a Montmartre carioca.