um trompete dança-me agora a medo
sopros abertos por dentro
erguem-me os braços e bailam para longe
é exacta a saudade entre os meus braços
e as pernas calçadas de margens sem mim
sei das paisagens mas entre as minhas pernas e o horizonte
sempre houve danças que não entendo
prefiro a superfície da música
sem direcção, um gesto em vez de um passo,
o movimento das pernas não pode escrever-te num quarto escuro,
só mãos a abrir um corpo
sem pernas o amor é de braços longos capazes de calar a linguagem das árvores
quando já só existe um vento fino ao piano,
os braços não caem
e um movimento de alegria tem que ondular pelo corpo acima
seguro, quando rodas
os teus braços levantam um pólen tão ordenado como o das abelhas
que recolho nos meus
e se os vires desvanecer em direcção pouco certa
nesse instante diz-me adeus, como se só as pernas me tivessem partido,
tem cuidado meu amor com a inveja que as palavras têm dos braços
um gesto ouve-se menos que um passo
e o nosso abraço roda sem atrito
vês, como se ergue ligeiramente
e vai dispersando a terra que lhe cai em cima
os teus braços não são teus
são duas rezas minhas
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talvez os polegares não desviem as águas
dobradas pelas raízes
em conversas a fio
pensava nela a regressar das raízes pelas mãos
de como se lembra de toda a água que já foi
e se ouve ainda o fechar da maré
em cada rotação dos seus olhos
ouvia repetidamente
divide a luz se te atreves
e talvez aí a sombra
cada célula
grávida de um segredo:
não espero da água
o que espero de mim
que no código de vez em quando
tenha sobrado um verso:
pode levar-se uma pergunta ao infinito
ou dar-lhe um beijo--------------------------
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