Súbito [Miss Barbara] teve um enjoo e deu de cara, no banco fronteiro, com Rodolfo Valentino.
O enjoo passara, mas vinha de novo. Rodolfo Valentino fitava-a. Aquele olhar fixo de sheik, debaixo da cartolinha arrepiada. Ela estava pálida, transfigurada. Era ele! Não morrera. Revirou os olhos.
Ia desfalecendo em cima de uma inglesa de óculos e chapéu de palha.
Rodolfo levantou-se, amparou-a.
Ao seu lado, só, de cartolinha, Rodolfo Valentino.
O diálogo que houve foi numa língua sem dicionário possível, mas facilmente traduzida pela fotogenia de ambos.
- Por que o senhor está aqui?
- Chi! lo sá?
- O senhor é médico?
Gesto afirmativo, categórico.
- Especialista de quê?
Gesto indicando o estômago. Ela sorriu.
- Já passou...
Silêncio. Olhar de sheik. Ela sorriu de novo. Perguntou:
- Quantos médicos há?
- Chi! lo sá?
Silêncio. Olhar de sheik. Ela contou:
- Eu nasci torta...
Conversaram a tarde toda, depois do desembarque azul, em Capri. De vez em quando, o sheik dizia:
- Chi! lo sá?
E foi assim que Champoglione Vespa conquistou num tiro a alma, o corpo e a fortuna da neta do Rei do Óleo de Fígado de Bacalhau.
Oswald de Andrade, em "O sucessor de Rodolfo Valentino", Jornal do Commercio, 28.10.1926.