Miss Stein acorda todo dia às 10h e bebe um pouco de café, de má vontade. A possibilidade de ficar nervosa sempre a deixa nervosa e ela acha que o café a deixará mais nervosa ainda, mas foram recomendações médicas. Miss Toklas, sua companheira, acorda às 6 e começa a circular pela casa, faxinando. Certa vez quebrou um belo espelho veneziano e chorou. Stein deu uma gargalhada e disse: "Ora, que importa? Objetos existem para serem consumidos, como bolos, livros e gente." Toda manhã Toklas dá banho, penteia e escova os dentes do poodle francês das duas, Basket. O cachorro tem sua própria escova.
Stein tem uma banheira gigantesca, feita especialmente para ela. Uma escada precisou ser retirada da casa para instalá-la. Após o banho, ela veste um roupão de lã enorme e escreve um pouco, embora prefira escrever do lado de fora da casa, após vestir-se. Na casa de campo em Bilignin há montanhas e vacas e Stein gosta de ficar olhando montanhas e vacas enquanto escreve. As duas costumam sair no Ford até encontrar um lugar inspirador. Então Stein senta num banquinho portátil com seu lápis e bloco, enquanto Toklas, munida de coragem, coloca uma vaca no campo de visão de Stein. Se a vaca não combina com o estado de ânimo de Stein, as duas voltam para o carro e procuram outra vaca. Quando a grande senhora está inspirada, ela escreve rápido por uns 15 minutos. Mas em geral ela só fica sentada lá, olhando para as vacas.
Stein sempre se encarrega de dirigir o automóvel. Toklas fica no banco traseiro, gritando e sacolejando, pois todo mundo sabe que Stein é a pior motorista da história da engenharia automobilística. Entra nas curvas rápido demais, não usa a mão para sinalizar, dirige na contramão, não respeita sinais de trânsito da mesma forma que não respeita os de pontuação, e nunca buzina. Apesar disso, nunca sofreram um acidente.
(The New Yorker, 13 de outubro de 1934, tradução de Maira Parula)