15.2.06
5 poemas de Luis Chaves
Luis Chaves, poeta costa-riquenho, nasceu em 1969, tem três livros publicados, El anónimo (1996), Los animales que imaginamos (1998) e Historias Polaroid (2000). Escreve simples e direto à sensibilidade. Para este blog, traduzi cinco poemas dele.
Postal
No mar à tarde,
calmo e sem ondas,
uma banhista solitária
entra até a cintura.
A metade de cima
observa algo que não vemos.
A metade de baixo
não existe.
A baixinha do canto escuro
Mamãe queria que eu fosse mulher
e que não chovesse nove meses do ano
e que papai a tirasse para dançar de vez em quando.
Mas era mais fácil amanhecer um dia com tetas
do que don Luis convidá-la para um bolero.
Há muitos anos minha mãe deixou de sonhar,
hoje aguarda a velhice como um último trâmite.
Essa mulher que em muitas manhãs
lavou e secou os pés que mais tarde
uma só vez dançaram com ela,
senta todos os dias nos degraus de sua casa
para olhar a dança vitoriosa da chuva
e para atender meus telefonemas,
cada vez menos freqüentes,
já nem sequer pode levantar-se
com o peso de tanta música morta nas pernas.
Plano B
Todas as decisões erradas de tua vida
fizeram com que chegasses até aqui.
Basta uma correta para afastar-te.
O objeto do desejo
Debaixo dessa pintinha tão sexy
cresce em silêncio
um tumor maligno.
Quanto dura a felicidade
O avô de mamãe,
totalmente senil,
dentadura de porcelana e fraldas,
sentado no meio de sua prole
que já não reconhece.
Depois de contar até três todos dizem giz.
Seu sorriso tem a mesma duração
que o instante mínimo
entre o flash e o obturador.
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