5.12.16

Ferreira Gullar e Augusto de Campos

No corpo
De que vale tentar reconstruir com palavras
O que o verão levou
Entre nuvens e risos
Junto com o jornal velho pelos ares
O sonho na boca, o incêndio na cama,
o apelo da noite
Agora são apenas esta
contração (este clarão)
do maxilar dentro do rosto.
A poesia é o presente.

O Vivo

Não queiras ser mais vivo do que és morto.
As sempre-vivas morrem diariamente
Pisadas por teus pés enquanto nasces.
Não queiras ser mais morto do que és vivo.
As mortas-vivas rompem as mortalhas
Miram-se umas nas outras e retornam
(Seus cabelos azuis, como arrastam o vento!)
Para amassar o pão da própria carne.
Ó vivo-morto que escarnecem as paredes,
Queres ouvir e falas.
Queres morrer e dormes.
Há muito que as espadas
Te atravessando lentamente lado a lado
Partiram tua voz. Sorris.
Queres morrer e morres.

O primeiro poema é de Ferreira Gullar, o segundo, de Augusto de Campos. Os dois são grandes poetas, de diferentes vozes. Defender um para atacar o outro é simplesmente pobreza mental. Atacá-los por suas posições políticas é mais imbecil ainda. Não interessa o que pensam os poetas, os poemas é que importam. Após seu falecimento, Ferreira Gullar foi novamente atacado por suas posições políticas mais recentes, mas não o defenda atacando Augusto. Estás fazendo o mesmo joguinho idiota. RIP Ferreira Gullar.